Esta carta do jornalista, jurista e poeta Luiz Gama é resposta ao pedido que lhe fizera o escritor Lúcio de Mendonça para que lhe enviasse informações sobre os fatos dramáticos de sua vida de filho de negra, africana livre, e pai de origem portuguesa. A experiência de vida aqui relatada transformou-o num dos maiores abolicionistas brasileiros: “exauria-se no próprio ardor”, como disse Raul Pompeia no seu enterro. 

São Paulo, 25 de julho de 1880

Meu caro Lúcio,

Recebi o teu cartão com a data de 28 do pretérito.

Não me posso negar ao teu pedido […],[1] aí tens os apontamentos que me pedes, e que sempre eu os trouxe de memória.

Nasci na cidade de São Salvador, capital da província da Bahia, em um sobrado da rua […]

Depois de mais de trinta anos de amizade com a condessa de Barral, o imperador dom Pedro II sofre as saudades da distância que os separa: ele no Rio de Janeiro, ela em Roma.

Rio de Janeiro, 7 de junho de 1880

Condessa,

Cheguei às oito e meia para nove horas da manhã.

Careço de tempo para copiar as notas de minha viagem que muito me agradou. O Paraná é uma bela província de grande futuro. O frio fortificou-me, chegou numa manhã em Curitiba a dois graus abaixo de zero. Não imagina quanto você me faltou durante […]