Do sítio do amigo Octavio de Faria, em Itatiaia, onde penava um dos primeiros desencontros amorosos que experimentaria na vida, o poeta do “Soneto de fidelidade” escreve à mãe, dona Lydia, sobre seu estado de espírito.

Itatiaia, 13 de janeiro de 1935

Minha mãe,

Só agora me sinto com um pouco mais de coragem para me sentar e escrever. Estava espatifado. Depois de ter passado quase que toda a noite em claro e de ter feito uma viagem em que a maior preocupação foi “não formar ambiente de enterro”, cheguei ao sítio mais morto do que vivo, […]

Nesta carta, Noel se dirige ao seu médico, Edgar Graça Mello, que em 1934 lhe diagnosticou uma lesão no pulmão direito e “qualquer coisa” querendo começar no esquerdo. Em janeiro de 1935, o paciente viajou para a casa de uma tia, Carmem, irmã de sua mãe, em Belo Horizonte, onde, em lugar de sossego, caiu na boemia com os artistas da Rádio Mineira. Décadas depois, o compositor João Nogueira musicou a carta, gravando-a em seu disco Vida boêmia, de 1978, e acrescentando mais uma estrofe: “Muito obrigado ao Noel/ É grande a satisfação/ Ter um parceiro no céu/ Quem fala aqui é o João”.

[Belo Horizonte, 27 de janeiro de 1935]

Meu dedicado médico e paciente amigo Edgar,

Um abraço

Se tomo a liberdade de roubar mais uma vez seu precioso tempo, é porque tenho certeza de que você se interessa por mim muito mais do que eu mereço.

Assim sendo, vou passar a resumir as notícias que se referem à marcha do meu tratamento.

E, […]