Amigos, Mário de Andrade e Moacir Werneck de Castro conviveram intensamente entre julho de 1938 e fins de fevereiro de 1941, período em que o primeiro morou no Rio de Janeiro, sofrendo de inadaptação e solidão. De volta a São Paulo, cartas, como esta, de certa maneira substituíam as longas conversas na Taberna da Glória, quase em frente ao apartamento que Mário alugava na rua Santo Amaro, 5, no mesmo bairro da Glória.

São Paulo, Reis [6 de janeiro] de 1942

Moacir,

Deixei de responder mais cedo à sua última carta, muito delibe­radamente. Desta vez o “missivista exemplar” estava carecendo de não escrever a certos amigos mais certos. Se escrevesse, mentia. Vo­cês já estão arquissabidos de que eu estava no fim de um período de desequilíbrio, e eu com vergonha de feitas as promessas e as […]

Aos 18 anos, quando publicou seu primeiro livro, Os grilos não cantam mais (1941), Fernando Sabino enviou um exemplar a Mário de Andrade, àquela altura já escritor de grande prestígio. A resposta do autor de Macunaíma deu início a um diálogo epistolar por meio do qual se estabeleceu uma relação de mestre e discípulo de que esta carta é exemplo.

São Paulo, 16 de fevereiro de 1942

Fernando Sabino,

Vou pegar esta segunda-feira de carnaval pra lhe responder mais longamente. Você já deve ter recebido um cartão meu a respeito do assunto que você me propôs. É que a sua carta respirava um tal desejo de saber logo o que eu imaginava sobre o problema que tocava imediatamente a prática de sua […]

Quando o pintor e poeta Vicente do Rego Monteiro propôs a João Cabral de Melo Neto publicar Pedra do sono na revista Renovação, que editava, Cabral entrou em pânico e tentou, inutilmente, demover o amigo da ideia. Conseguiu dele, porém, a promessa de que do livro não se faria uma separata, como era costume, e que a publicação ficaria subordinada à opinião de Carlos Drummond de Andrade. “Sinto que não é esta a poesia que eu gostaria de escrever”, afirmara em carta a Drummond, que, em resposta, lhe enviou esta, incentivando-o a publicar os poemas mesmo assim.

Rio [de Janeiro], 17 de janeiro de 1942

Meu caro João Cabral,

A falta de resposta deve implicar consentimento, não desaprovação. Como você pensa de outro modo, quero manifestar-lhe expressamente minha opinião sobre a inclusão do seu livro na coletânea de Vicente do Rego Monteiro.[1] Acho que você deve publicar. Sou de opinião que tudo deve ser publicado, uma vez que […]

Por causa da guerra e do desejo de se casar com o diplomata brasileiro Maury Gurgel Valente, Clarice Lispector apressou-se em requerer a nacionalidade brasileira assim que completou os 21 anos necessários para esse pedido. A urgência fez com que escrevesse esta primeira carta ao então presidente Getúlio Vargas. No dia 12 de janeiro de 1943, Clarice se naturalizou brasileira. Onze dias depois, casou-se com Maury Gurgel Valente.

Rio de Janeiro, 3 de junho de 1942

Senhor presidente Getúlio Vargas,

Quem lhe escreve é uma jornalista, ex-redatora da Agência Na­cional (Departamento de Imprensa e Propaganda), atualmente n’A Noite, acadêmica da Faculdade Nacional de Direito e, casual­mente, russa também.

Uma russa de 21 anos de idade e que está no Brasil há 21 anos menos alguns meses. Que não conhece uma só […]