Hélio Pellegrino, amigo de toda a vida de Otto Lara Resende, lhe envia, de Minas, esta carta escrita em dois momentos diferentes, que vão do desespero à esperança. A profunda angústia do primeiro resultaria em “Prosa de 24 de agosto de 1947”, transposição desta carta para versos, que podem ser vistos aqui na galeria de imagens.

Belo Horizonte, 24 de agosto de 1947

Meu querido Otto,

Estou a escrever-lhe num dos momentos mais definitivos da minha vida, num desses momentos em que o cálice das tristezas parece que vai transbordar. Hoje, Otto, neste agora, neste momento, a minha angústia é tamanha, o meu sofrimento é tão alto, que tudo o mais […]

Publicada em 15 de fevereiro de 1947 na revista O Cruzeiro, esta é uma das centenas de crônicas que a autora de O Quinze escreveu para o periódico ao qual se manteve fiel ao longo de trinta anos. No ano em que escreveu esta carta, Rachel vivia com o segundo marido, Oyama de Macedo, na Cova da Onça, espécie de vale entre o bairro Cocotá e a praia do Barão, na Ilha do Governador.

Ilha [do Governador], 15 de fevereiro de 1947

É umas dessas cartas que exigem resposta — de uma moça de 25  anos chamada Aspásia e que, segundo diz, sabe que vai morrer.

Na verdade são duas coisas díspares: 25 anos e a certeza da morte próxima. Mas afinal quem lhe deu essa certeza? A medida da vida e da morte nunca está na […]

Desde abril de 1946, Clarice Lispector e o marido, Maury Gurgel Valente, moravam em Berna, Suíça, onde ele, como diplomata, assumira o cargo de segundo-secretário na embaixada do Brasil. A convite do casal de jornalistas Bluma e Samuel Wainer, os Gurgel Valente passaram o final desse ano em Paris, hóspedes dos amigos, que moravam na capital francesa. De lá, onde Clarice e o marido permaneceram até 4 de fevereiro, ela escreve às irmãs Elisa e Tania.

Paris, janeiro de 1947

Minhas queridas,

Apesar de não ter escrito tanto tempo, estou sempre pensando em vocês, minhas queridinhas. Não escrevo porque minha vida aqui tem sido mais movimentada do que é possível e eu queria escrever muito, mas só poderia superficialmente. Não sei se estou louca por Paris. É difícil dizer. Com a vida assim, parece que […]