Até onde pode ir o processo de criação de uma obra? Com Murilo Rubião, a gestação de um conto pode durar pelo menos 15 anos – é o que mostra esta carta a Otto Lara Resende, com quem comenta “Teleco, o coelhinho”, incluído no livro Os dragões e outros contos, de 1965. 

Belo Horizonte, 30 de março de 1950

Velho Otto,

Não pense em possíveis ingratidões, que elas não existem. Toda mudança envolve ambientação nova, novos compromissos. E sendo retorno, temos que reatar velhos amores, reajustar nossa máquina bélica para outros empreendi­mentos sentimentais.

Não foi o que fiz. Deixei-me embalar por essa inefável monotonia belorizontina, que pode irritar os menos avisados, mas que tanto […]

Em 1950, o farmacêutico José Freire Silva mudou-se, com a família, da pacata cidade mineira de Boa Esperança para o Rio de Janeiro, então capital da República. A mudança tinha como objetivo dar continuidade aos estudos de piano do filho, então com seis anos. Escrita em páginas do livro de contas da Farmácia Freire Silva, de sua propriedade, o pai de Nelson Freire registrou a decisão nesta carta que seria lida pelo cineasta Eduardo Coutinho no documentário Nelson Freire, de João Moreira Salles.  

Boa Esperança, 21 de julho de 1950

Meu filhinho,

Ao tomar a decisão de transferir-me com toda a nossa família para a capital da República, julguei oportuno registrar no teu álbum de reminiscências alguns fatos que intimamente dizem respeito à tua existência para que sirvam de orientação para tua biografia, isso porque a nossa mudança se faz unicamente por tua causa. Sem […]

Drummond teve uma única filha, Maria Julieta Drummond de Andrade, que, em 1949, se casou com o advogado portenho Manuel Graña Etcheverry, chamado de Manolo, e foi morar em Buenos Aires, onde deu à luz três filhos: Carlos Manuel, Luís Maurício e Pedro Augusto Graña Drummond.

Rio de Janeiro, 9 [de] janeiro [de] 1950

Juju flor,

Sua carta do dia 4 foi a alegria de ontem, e muito nos enterneceu, sobretudo pelo relato circunstanciado da viagem a Deán Funes,[1] com aqueles esquecimentos que tanto atrapalharam você e que serviram para confirmar aquilo que nós já sabíamos, a saber, que Manolo é uma grande figura. Por aqui, a […]

Luís Martins publicara em O Estado de S. Paulo crônica escrita em Paris, na qual revela encantamento com a cantora Suzy Solidor, homenageada na Maison de l’Amérique Latine. Esta carta revela que o texto de Martins despertou ciúmes em sua mulher, a pintora Tarsila do Amaral, que ficara em São Paulo.

São Paulo, 20 de dezembro de 1950

Querido Luís,

Já tinha passado vários dias sem escrever (por muito trabalho) quando recebi, no dia 13, sua carta com a crônica que levei ao Estado. O Julinho [Júlio de Mesquita Neto] vai publicar na página de arte. (Não sei se saiu, vou verificar.) Pois a tal crônica, na qual você falava de “um dos […]