Transplantados de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro desde a década de 1940, onde se destacaram no jornalismo carioca, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende mantiveram-se unidos por toda a vida. Entre 1957 e 1959, quando o segundo esteve como adido cultural do Brasil em Bruxelas, Paulo lhe escrevia cartas ou publicava crônicas, como esta, para se aproximar do amigo.

Meu caro e velho Pajé,

Imagine você que recebi de presente uma caixa de papel de carta uma beleza, que eu enviaria gostosamente à madame Sévigné[1] de nossa época, se lhe soubesse o nome e endereço. Enfim, voilà une lettre! Às vezes dou comigo invejando você aí em Bruxelas ou o ve­nerando [Murilo] […]

Na Paris de 1948, tomando café em Montparnasse e falando “despudoradamente de pintura”, Iberê Camargo e Mário Carneiro construíram uma amizade que se manteria por meio de cartas como esta, em que impressões e angústias sobre arte são tema.

Rio de Janeiro, 8 de novembro de 1957

Caríssimo general,

Ontem terminei um quadro que me custou muito trabalho. Trata-se de uma tela grande.[1] Mede 1,50m x 0,53m – retângulo áureo – onde alinhei uma porção de latas, garrafas, laranjas, enfim, os meus brinquedos de sempre. Trabalhei nesse quadro mais de um mês, gastei uma pequena fortuna em tintas. Mais de […]

Como colaborador prudente do “Suplemento Literário” de O Estado de S. Paulo, dirigido por Decio de Almeida Prado de 1956 a 1967, Carlos Drummond de Andrade lhe enviou este curioso bilhete em que dá ao editor a liberdade de fazer alteração importante no poema que o IMS gravaria em DVD, “Especulações em torno da palavra homem”. Os cuidados de Drummond com o emprego do verbo nesse poema, e em um outro de natureza semelhante, foram estudados por Mariana Quadros em “Cartas de estimação de Carlos Drummond de Andrade”. O verbo copular seria mantido na versão publicada em A vida passada a limpo (1959), conforme decisão do poeta expressa neste bilhete. 

Rio [de Janeiro], 3 de fevereiro de 1957

Prezado Decio de Almeida Prado,

Um abraço

Aí vai, para o suplemento do Estado, qualquer coisa parecida com um poema, longo e monótono de caso pensado. Se achar que o verbo copular, no sétimo terceto, fere o leitor comum, pode substituí-lo por enlaçar. Em livro a gente restabelece a palavra, como já tenho feito.

Cordialmente, […]

Como colaborador do “Suplemento Literário” de O Estado de S. Paulo, dirigido por Decio de Almeida Prado de 1956 a 1967, João Cabral lhe enviava poemas para serem publicados no suplemento. Nesta carta, escrita de Sevilha, onde seguia carreira diplomática, o poeta recusa convite para escrever prosa.

Sevilha, 7 de abril de 1957

Meu caro Decio,

Recebi sua última carta. Está tudo ok – tudo o que você diz a respeito de pagamento, datas de publicação, etc. Não se preocupe que não me prejudica em nada deixar os poemas inéditos mais tempo.

O que você me pede a respeito da nota é que está difícil. Devo dizer que […]

Em resposta à carta que lhe escrevera Rodrigo Octavio Filho a respeito de dados sobre o Penumbrismo, Ribeiro Couto, que nessa época era embaixador do Brasil em Belgrado e a quem se atribuía a criação desse “jeito” de fazer versos, envia-lhe preciosas informações nesta carta. Rodrigo Octavio as utilizaria para escrever o excelente estudo sobre o assunto, incluído em seu Simbolismo e Penumbrismo, de 1970.

Belgrado, 10 de março de 1957

Querido Didi,

Sabes o que é Belgrado. Pelo menos pelos jornais. Um sem parar de acontecimentos, tomadas de posição, polêmicas (pró ou contra os comborços), suposições sensacionais, decepções, esperanças, e outra vez acontecimentos etc. etc. A montanha-russa (sem trocadilho) no mais mecânico sentido da roda que gira. Como tenho uma embaixada a meu cargo, e […]