Com a proximidade do primeiro de maio, dia do aniversário de 37 anos de Otto Lara Resende, que, na ocasião, era adido cultural na Embaixada do Brasil, em Bruxelas, Hélio Pellegrino, então com 35 anos, escreve esta carta comovente e afetuosa em que reflete sobre a passagem do tempo e a maturidade.

Rio de Janeiro, 18 de abril de 1959

Meu excelente Otto,

Escrevo-lhe, depois do almoço, em plena tarde de verão, já que esse dadivoso calor carioca não mais se desprega da pele da cidade. Grudou-se a ela, a nós todos, e nos suga pachorrentamente, gruda e gordíssima sanguessuga que nos espreme os poros, os ossos, os poços.

Acabo de passar os olhos no […]

Neste notável bilhete, o poeta Carlos Drummond de Andrade, colaborador assíduo do “Suplemento Literário” de O Estado de S. Paulo, dá ao então editor Decio de Almeida Prado a liberdade de fazer uma alteração em seu poema “Os materiais da vida”. Os cuidados de Drummond com o emprego da palavra “coitos” nesse poema, e do verbo “copular” em outro, foram estudados por Mariana Quadros em “Cartas de estimação de Carlos Drummond de Andrade”. A palavra seria mantida na versão publicada em A vida passada a limpo (1959).

Rio [de Janeiro], 22 de setembro de 1959

Meu caro Decio de Almeida Prado,

Você encontrará junto dois poemas que os leitores do seu suplemento não poderão achar excessivamente compridos. No segundo, a palavra coitos, se porventura parecer escandalosa em jornal, poderá ser substituída por beijos, fica a seu critério. E daqui lhe manda um abraço afetuoso, com a estima de sempre, o

[…]

Entre 1957 e 1959, Otto Lara Resende serviu como adido cultural na embaixada do Brasil em Bruxelas. Durante a temporada belga (além da lisboeta, nos anos 1960, pelo mesmo motivo), reclamava da falta de resposta dos amigos Hélio Pellegrino, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. Nesta carta/crônica publicada na revista Manchete, o último se dirige ao amigo.

Meu caro Otto,

Sei que você está de malas prontas, depois de dois anos e meio na Europa, para retornar ao Brasil, e assim eu não poderia deixar de adver­ti-lo nesta carta. As coisas aqui em nosso país mudaram muito e de repente; o fito desta é poupar-lhe um cho­que que até poderia desandar em […]