Ana Cristina Cesar tinha 17 anos, estudava na Inglaterra e alimentava um namoro à distância com Luiz Augusto Ramalho, exilado político na Alemanha. Do amor impossível e não realizado, ficaram as cartas que, doadas ao IMS por Luiz, figuram agora no livro Amor mais que maiúsculo, publicado pela Cia das Letras. O material manuscrito está digitalizado e disponível para pesquisa, e esta iniciativa faz parte das comemorações pelos 70 anos da poeta Ana C.

27 de outubro de 1969

Fico olhando pras tuas fotografias: uma de você cobrindo o rosto sobre a pedra, junto às gentes, irresistivelmente de calção azul e prêto; uma de você entre um discurso, Pedra Sonora abaixo, dizendo NÃO TIRA, NÃO BATE; e eu tirei, eu bati, e não me arrependo, mas me deito com uma contorção – LUIZ, LUIZ, […]

A grandeza humana e retidão de caráter do escritor Rodrigo Mello Franco de Andrade são tema desta carta que Alceu Amoroso Lima, ou Tristão de Athayde, como ficou conhecido, escreveu à filha Maria Teresa, religiosa que professava no mosteiro de Santa Maria, em São Paulo.

Petrópolis, 13 de maio de 1969

[…][1]

Muita gente e pouco espaço no enterro do Rodrigo. Tanto assim que nem vi que dom Marcos estava celebrando missa de corpo presente. Fiquei conversando com o Américo Lacombe,[2] o Xará[3] e outros. Havia em todos um sentimento profundo e também visível. Apesar das inevitáveis conversas, respirava-se um […]

O aumento da repressão provocado pelo AI-5 em 1968 fez com que a correspondência do pensador Alceu Amoroso Lima com sua filha Maria Teresa, madre no mosteiro de Santa Maria, em São Paulo, se tornasse cada vez mais indignada com a posição de amigos e da imprensa diante do regime militar instaurado em 1964. “Como você vê, não vejo nenhuma janela próxima por onde se possa respirar”, escreve nesta carta, no momento em que o país vivia sob a presidência de Arthur da Costa e Silva.

Petrópolis, 9 de fevereiro de 1969

Já quase meio-dia. Leitura descansada dos jornais, embora estes continuem a apresentar o aspeto melancólico e, sobre­tudo, o Correio da Manhã, de uma imprensa autoamordaçada pelo militotalitarismo que é, agora, o regime a que estamos submetidos desde o trágico dia 13 de dezembro de 1968, em que se consumou – por tempo indefinido – a […]