No dia seguinte à morte de Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura, assassinado nos porões do DOI-CODI, os estudantes rapidamente se organizaram para enviar esta carta aos jornalistas brasileiros. O movimento era uma necessária reação às violências e arbitrariedades da ditadura militar que, em 1975, atingia um nível agudo com sequestros, prisões e desaparecimentos. A convocatória parece ter surtido efeito: o Sindicato dos Jornalistas, junto com diversos movimentos estudantis, organizaram um ato ecumênico que reuniu 8.000 pessoas na Catedral da Sé em memória de Herzog.

[26 de outubro de 1976]

Aos jornalistas

Nos últimos dias foram presos em São Paulo e no resto do país dezenas de pessoas. As prisões atingiram indiscriminadamente estudantes, profissionais liberais, professores, sindicalistas, operários e membros do partido reconhecido pelo Governo, o MDB. Entre eles, 10 jornalistas.

Essas prisões tiveram todas as mesmas características: o sequestro, a incomunicabilidade. As pessoas foram […]

Dorival Caymmi e Jorge Amado se conheceram já adultos, em 1939, “apresentados por uns estudantes na avenida Rio Branco, entre o Café Nice e o Café Belas Artes”, lembra o cantor e compositor. A amizade se tornaria cada vez mais forte, como mostra esta carta em que Caymmi conta ao “irmão”, que estava morando na Inglaterra, novidades palpitantes de seu cotidiano, a que não faltam observações divertidamente maliciosas.

[Salvador, 30 de setembro de 1976]

Jorge meu irmão,

São onze e trinta da manhã e terminei de compor uma linda canção para Iemanjá pois o reflexo do sol desenha seu manto em nosso mar, aqui na Pedra da Sereia. Quantas canções compus para Janaína,[1] nem eu mesmo sei, é minha mãe, dela nasci. Talvez Stela saiba, ela sabe […]

Preso e torturado durante o regime militar que vigorou de 1964 a 1985, o teatrólogo Augusto Boal exilou-se na Argentina, terra de sua mulher, a psicanalista Cecília Boal. Nesse período, recebeu convite da Secretaria de Cultura de Lisboa para integrar o núcleo de professores do governo português. A renovação de seu passaporte, porém, tinha sido recusada pelo governo brasileiro e só neste ano de 1976 aconteceria o julgamento que lhe permitiria, com o documento, mudar-se para Lisboa.

Buenos Aires, 3 de maio de 1976

Chico,

Ando nervoso, ansioso, querendo que esse julgamento recomece de uma vez, querendo ganhar de goleada, 10 x 2, mas aceitando um 7 x 6 e não querendo nem pensar no contrário. Fico com os olhos grudados no telefone esperando um chamado de Brasília gritando “Ganhamos!”. Vai ser hoje, amanhã, quando? Vamos ver.

Nessa fulminante […]

Aproveitando a melodia de um choro de autoria de Francis Hime, Chico Buarque escreveu a letra desta canção/carta dando notícias do Brasil ao amigo Augusto Boal, que estava no exílio, em Lisboa, durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Enviou-a em fita K7 e a gravaria no elepê Meus caros amigos, de 1976, com a participação da flauta de Altamiro Carrilho, do clarinete de Abel Ferreira, do bandolim de Joel Nascimento e, mais uma vez, com Francis Hime ao piano.

Rio de Janeiro, 1976

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu […]