No aforismo que intitulou “Causa mortis”, Millôr já advertia: “Cinquenta por cento dos doentes morrem de médico”. É esse o teor do cartão-postal que envia ao dramaturgo e amigo Augusto Boal, exilado na França.

Rio [de Janeiro], 9 de dezembro de 1982

Meu caro Boal,

Recebi tua carta. Fica tranquilo – foi a primeira. Você não escreveu outra. Gostei de receber esta. Estimo que você melhore logo. Para isso é fundamental […]

O verso “Minas não há mais”, do poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade, inspirou a organização da mesa “Minas não há mais?” no Seminário sobre economia mineira, coordenado por Francisco Iglésias e realizado em Diamantina entre 15 e 17 de setembro de 1982. Esta é a resposta de Drummond ao amigo que lhe escrevera dando notícias sobre o evento.  

Rio [de Janeiro], 29 de setembro [de] 1982

Meu caro Iglésias,

Obrigado pela sua boa carta. Gostei de ter notícia do Seminário, coordenado por você com a notória competência. De acordo com o resultado: Minas e – acrescento – haverá sempre, se soubermos preservar certas marcas imunes à industrialização e ao cosmopolitismo, e conviventes com eles. A gente carrega Minas no sangue, […]

“Foi amor à primeira vista”, afirmou Caio Fernando Abreu sobre Ana Cristina Cesar, que conheceu em 1982, ano do lançamento de A teus pés, primeiro livro da poeta homenageada na FLIP de 2016. A amizade se desenvolveu por meio de cartas e encontros que perduraram até a morte dela, em 1983. Doze anos depois, o escritor, cujos 20 anos de morte se completaram em 2016, publicou esta carta, enviada por Ana, em uma matéria que escreveu para o jornal O Estado de S. Paulo.

Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1982

Te escrevo, Caio querido, com teu telefonema ainda quente, deixo Proust de lado e a burocracia editorial da lista de nomes e endereços e ceps, que me consola como um álbum de figurinhas. Ando gemebunda. Aguardo bem o livro[1] mas com aflição do número imprensa e dos falsos elogios dos amigos. Lançamento vai […]

Entre Armando Freitas Filho e Ana Cristina Cesar estabeleceu-se uma relação “intensa e produtiva” e de “confiança pessoal e literária”, segundo o poeta. Mesmo morando na mesma cidade, tinham o hábito de trocar cartas, como esta.

Rio [de Janeiro], 4 de janeiro de 1982

Ana Colorida,

Você é um caleidoscópio ou o quê? Quando entra, nas Residências Leonor, (tinha que ser no plural sua casa), múltipla, globe-trotter,[1] a vizinhança não se espanta diante de suas sandálias de sete léguas, de suas alpargatas sete vidas, de seus sapatos sete fôlegos?

Ana ubíqua, dúbia loura, acabará se casando com […]

Grandes amigos e confidentes, estabeleceu-se entre Armando Freitas Filho e Ana Cristina Cesar uma relação “intensa e produtiva” e de “confiança pessoal e literária”, segundo o poeta. Eles tinham o hábito de trocar cartas como esta, mesmo morando na mesma cidade.

[Rio de Janeiro, 1982]

Armando,

Passei esta noite de sexta-feira escrevendo a continuação da “Aventura na casa atarracada” (história fantástica à moda de Poe),[1] e versificando seu poema “Na beira, com os olhos abertos”, como uma louca a compor quebra-cabeças de mil peças. Não são mil, mas reparo outra vez a insistência de seus effes; de trezentos […]