De Berna, na Suíça, onde acompanhava o marido, o diplomata Maury Gurgel Valente, a escritora Clarice Lispector envia esta carta carinhosa à irmã Tania Kaufmann em que fala, dentre outras coisas, da gravidez de seu primeiro filho, Pedro, e da saudade que sente. A carta integra conjunto de cerca de quarenta missivas inéditas do acervo da escritora, sob a guarda do IMS.

Berna, 21 [de] fevereiro [de] 1948

Tania, minha filhinha querida, minha bonequinha,

Recebi sua carta com os retratos de Márcia[1] – um pouco atrasado porque estava em Saint-Moritz. Quando abri e vi Marcinha, meu coração se aqueceu de carinho. Nunca vi criança mais bonita! Como há muito tempo não via os retratos, no fim eu já me perguntava se […]

Casada com o diplomata Maury Gurgel Valente desde 1943, Clarice Lispector acompanhou-o em todos os postos mundo afora. Na capital suíça ela deu à luz seu primeiro filho, Pedro, que de tão bonito o chamou também de Gildo, evocando a beleza de Rita Hayworth no filme Gilda, de 1946.

Berna, 11 [de] setembro [de] 1948

Minhas irmãzinhas queridas,

Vocês devem ter recebido o telegrama de Maury – Pedro nasceu ontem, dia 10, às 7h30 da manhã. Estou escrevendo na madrugada de 11, porque não posso dormir direito. Estamos muito contentes, Maury e eu: a criança é sadia, fortona, pesa uns três quilos, seiscentos – por enquanto é a cara do […]

Moradora de Berna, na Suíça, desde abril de 1946, quando acompanhou o marido, Maury Gurgel Valente, em função diplomática, Clarice Lispector teve, dentre seus correspondentes assíduos, o amigo Lúcio Cardoso, por quem nutria profunda admiração. Como ele se demorasse na resposta às suas cartas, ela lhe enviou esta, em que não esconde seu desapontamento.  

Berna, 31 [de] outubro [de] 1946

Alô, Lúcio,

isto é apenas pra perguntar como você vai.

O quê? ah, estou bem, obrigada.

Sim, com frio também, obrigada.

O quê? ah, sim, mesmo no outono já se tem um grau abaixo de zero.

Que eu vou morrer de frio? Ah, sim, você talvez tenha razão. Que você tem me escrito muito? sim, […]

Os 80 anos de nascimento de Manuel Bandeira foram largamente comemorados em todo o país. Decio de Almeida Prado, que, 1966, era diretor do “Suplemento Literário” de O Estado de S. Paulo, cargo que exerceu de 1956 a 1967, quis homenagear o Poeta de Pasárgada com um poema que encomendou a outro poeta pernambucano: João Cabral de Melo Neto. Mas o autor de “Morte e vida severina” explica, nesta carta, o porquê de não poder aceitar a tarefa.

Berna, 25 de março de 1966

Meu caro Decio,

Muito honrado com seu telegrama encomendando um poema para o número do suplemento sobre o Manuel.[1] O poeta merece todos os poemas (bons) e o amigo também (para não falar no primo e no conterrâneo). Acontece porém que ando completamente esgotado para qualquer trabalho criador. Acabo de terminar um livro […]