Em outubro de 1902, Euclides da Cunha enviou a Francisco de Escobar um dos primeiros exemplares, ou as provas tipográficas, de Os sertões, no qual o amigo identificou erros de pontuação, acentuação e concordância. Mortificado com os descuidos que cometera, Euclides lhe escreve esta carta, e, antes da publicação da obra, ainda naquele ano, faz correções a nanquim e ponta de canivete em cerca de 1.000 exemplares. Em alguns, encontram-se também emendas impressas.

Lorena, 19 de outubro de 1902

Escobar,

Respondo a tua carta, agora recebida. Pilhérico sonho, o teu… ministro! Ministro da Viação este teu pobre amigo! Só mesmo em sonhos…

Mas queres saber de uma coisa? Prefiro ser realmente ministro nos breves minutos de um sonho, ocupando a imaginação de um amigo, do que o ser, de fato, nesta terra onde não […]

Enquanto escrevia Os sertões, Euclides da Cunha supervisionou o trabalho de reconstrução de uma ponte que desabara na cidade de São José do Rio Pardo, em São Paulo, onde permaneceu de março de 1898 a maio de 1901. A notícia de que havia uma frincha ameaçando a estabilidade da ponte poucos meses depois de sua inauguração, o que a colocaria em risco mais uma vez, deixou-o ansioso. Nesta carta, ele pede ao amigo Escobar para verificar a veracidade da informação, que, felizmente, se revelaria falsa: a frincha não passava de um risco de colher de pedreiro.

Lorena, 10 de agosto de 1902

Escobar,

Saúdo-te e todos os teus. Venho do Rio, onde fui — celeremente, de um noturno a outro — para conversar com o Laemmert e saber o dia que, afinal, ficará pronto o meu encaiporado livro.[1] Felizmente os frios ale­mães receberam-me num quase entusiasmo, e, quebrado o antigo desa­lento, quase preveem um sucesso […]