Ao Governador de São Paulo,

Recebi um telegrama do Sr. Ministro Chefe de Cerimonial do Palácio do Governo, comunicando-me que me foi outorgada a Ordem do Ipiranga.

Desde que comecei minha carreira no Teatro, há trinta anos, poucos grandes nomes do palco foram homenageados pelos governos com ordens, medalhas, comendas etc… e sempre me indaguei […]

No dia seguinte à morte de Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura, assassinado nos porões do DOI-CODI, os estudantes rapidamente se organizaram para enviar esta carta aos jornalistas brasileiros. O movimento era uma necessária reação às violências e arbitrariedades da ditadura militar que, em 1975, atingia um nível agudo com sequestros, prisões e desaparecimentos. A convocatória parece ter surtido efeito: o Sindicato dos Jornalistas, junto com diversos movimentos estudantis, organizaram um ato ecumênico que reuniu 8.000 pessoas na Catedral da Sé em memória de Herzog.

[26 de outubro de 1976]

Aos jornalistas

Nos últimos dias foram presos em São Paulo e no resto do país dezenas de pessoas. As prisões atingiram indiscriminadamente estudantes, profissionais liberais, professores, sindicalistas, operários e membros do partido reconhecido pelo Governo, o MDB. Entre eles, 10 jornalistas.

Essas prisões tiveram todas as mesmas características: o sequestro, a incomunicabilidade. As pessoas foram […]

No ano em que seria instaurado o Ato Institucional nº 5 (AI-5), o Teatro de Arena estreava a Primeira Feira Paulista de Opinião, um espetáculo composto por seis peças escritas pelos mais importantes dramaturgos brasileiros à época, como Augusto Boal e Plínio Marcos. Às vésperas da estreia, a Censura ainda não havia liberado a montagem, o que motiva esta carta-manifesto de Cacilda Becker ao então diretor-geral da Polícia Federal do Brasil, general José Bretas Cupertino. O grupo teatral foi notificado por Brasília, que exigiu o corte de cerca de 80 trechos. Como um ato de “desobediência civil” à ditadura, os artistas decidem executar a Feira Paulista de Opinião na íntegra.

Ilmo. Senhor
General José Bretas Cupertino
MD Chefe do Departamento de Polícia Federal

O Teatro de Arena de São Paulo sempre se caracterizou, nestes últimos quinze anos, pelo constante trabalho de pesquisa em todos os setores da arte teatral. Foram notáveis suas contribuições no terreno da interpretação, da encenação e sobretudo da dramaturgia […]

Neste dia 10 de dezembro de 2020, comemora-se o centenário de Clarice Lispector. O Instituto Moreira Salles celebra vida e obra da escritora com o lançamento do novo site de Clarice. O correio IMS participa das comemorações reproduzindo, abaixo, uma crônica do livro A descoberta do mundo (1984), em que Clarice publica uma carta escrita por Fernanda Montenegro. A atriz evoca o mundo particular, delicado e misterioso da escritora, num ano de grandes dificuldades para o teatro brasileiro, marcado pela repressão da ditadura militar.

De São Paulo recebi uma carta de Fernanda Montenegro.

Telefonei-lhe pedindo licença para publicá-la. Foi dada:

“Clarice,

É com emoção que lhe escrevo, pois tudo o que você propõe tem sempre essa explosão dolorosa. É uma angústia terrivelmente feminina, dolorosa, abafada, educada, desesperada e guardada.

Ao ler meu nome, escrito por você¹, recebi um choque […]

A vida é um bocejar infinito

De: Álvares de Azevedo Para: Maria Luísa Silveira da Mota

Em 1848, o poeta paulistano Álvares de Azevedo deixa o Rio de Janeiro, onde morava sua família, e retorna à cidade de nascimento para concluir os estudos na tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Aos 17 anos, o jovem não demonstra entusiasmo ao chegar à capital, que, naqueles tempos, era habitada por pouco menos de 15 mil pessoas. Em carta à sua mãe, Maria Luísa Silveira da Mota Azevedo, o autor de Lira dos vinte anos (1853) traça um perfil diferente da metrópole que conhecemos hoje.

São Paulo, 12 junho de 1849

Tenho a vista a sua de 3 de corrente que com muito prazer recebi.

Enquanto no Rio reluzem esses bailes a mil e uma noites, com toda a sua mania de fulgências e luzes, por aqui arrasta-se o narcótico e cínico baile da concórdia Paulistana.

Nunca vi lugar tão insípido, como hoje está São Paulo […]