Luís Martins publicara em O Estado de S. Paulo crônica escrita em Paris, na qual revela encantamento com a cantora Suzy Solidor, homenageada na Maison de l’Amérique Latine. Esta carta revela que o texto de Martins despertou ciúmes em sua mulher, a pintora Tarsila do Amaral, que ficara em São Paulo.

São Paulo, 20 de dezembro de 1950

Querido Luís,

Já tinha passado vários dias sem escrever (por muito trabalho) quando recebi, no dia 13, sua carta com a crônica que levei ao Estado. O Julinho [Júlio de Mesquita Neto] vai publicar na página de arte. (Não sei se saiu, vou verificar.) Pois a tal crônica, na qual você falava de “um dos […]

Desde abril de 1946, Clarice Lispector e o marido, Maury Gurgel Valente, moravam em Berna, Suíça, onde ele, como diplomata, assumira o cargo de segundo-secretário na embaixada do Brasil. A convite do casal de jornalistas Bluma e Samuel Wainer, os Gurgel Valente passaram o final desse ano em Paris, hóspedes dos amigos, que moravam na capital francesa. De lá, onde Clarice e o marido permaneceram até 4 de fevereiro, ela escreve às irmãs Elisa e Tania.

Paris, janeiro de 1947

Minhas queridas,

Apesar de não ter escrito tanto tempo, estou sempre pensando em vocês, minhas queridinhas. Não escrevo porque minha vida aqui tem sido mais movimentada do que é possível e eu queria escrever muito, mas só poderia superficialmente. Não sei se estou louca por Paris. É difícil dizer. Com a vida assim, parece que […]

A viagem que Lucio Costa fez à Europa em 1926 era, segundo ele próprio, menos para estudo do que “por motivos sentimentais insolúveis”. Sua descrição da ilha do Maio, nesta carta, impressiona pelos detalhes de beleza geográfica e pela prosa atraente.

Bordo do Bagé, 6 de outubro de 1926

Querida mãe,

Quando embarquei no Bagé corri ao comissário a ver se havia alguma carta para mim. Entretanto de casa nada encontrei, nada recebi; fiquei desapontado. Naturalmen­te não lhes passou pela mente aproveitar esse meio de dar-me notícias – suas, mamãe, de tudo e de todos. Agora só em Paris. Já […]

Em 1831, em meio a forte crise política, dom Pedro I abdicou em favor de Pedro de Alcântara, então com seis anos de idade, filho de seu primeiro casamento com dona Leopoldina. Foi obrigado a deixar o Brasil com a segunda mulher, dona Amélia de Leuchtenberg, e, na madrugada de 7 de abril daquele ano, noite da partida, ela, que estava com 19 anos e amava os enteados, deixou esta carta ao menino e futuro imperador dom Pedro II, como se pode ouvir na leitura em vídeo ao final da carta.

Rio de Janeiro, [abril de 1831]

Meu filho do coração e meu imperador,

Adeus, menino querido, delícias de minha alma, alegria de meus olhos, filho que meu coração tinha adotado. Adeus para sempre.

Quanto és formoso nesse teu repouso! Meus olhos choro­sos não se puderam furtar de te contemplar! A majestade de uma coroa, a debilidade da infância, a inocência dos […]

Perseguido pelo então presidente marechal Floriano Peixoto, que o considerava o mentor intelectual da Revolta da Armada, movimento de oposição ao governo desencadeado no Rio de Janeiro em setembro daquele ano, Rui Barbosa embarca clandestinamente no Madalena, navio que o levaria ao exílio em Buenos Aires. Com duas semanas de viagem, escreve esta carta à mulher, com quem estava casado havia sete anos.

Buenos Aires, bordo do Madalena, 19 de setembro [de 18]93

Minha adorada Maria Augusta,

Decididamente, minha Cota, não se morre de dor, desde que eu não morri ainda. Mas morrerei, ou enlouquecerei, se isto continua, e eu não posso ir reunir-me contigo, ou tu comigo. Não sei, não sei como ainda vivo! Mas esta vida que eu levo é atroz, é desesperadora: mata-me a fogo […]