Amigo do português João de Barros, com quem criou a revista Atlântida a fim de aproximar o Brasil de Portugal, João do Rio (Paulo Barreto) não deixava de contar ao sócio as notícias mundanas do Rio de Janeiro, como nesta carta tão divertida quanto informativa.

[Rio de Janeiro], fevereiro [de 1912]

Meu caro João,

Chegou a Ema.[1] Criaturinha insignificante. O José Moraes (o empresário) literalmente sem dinheiro, porque ela em dois anos comeu-lhe duzentos contos e estragou-lhe vários negócios, não quer ser amante e ama-a. A Ema dá ataques e fornica com toda a gente […]

Divertindo-se com as fofocas do meio literário e político carioca que temperavam suas cartas ao amigo português João de Barros, com quem fundara a revista Atlântida, João do Rio (Paulo Barreto) comenta, nesta carta, um caso de adultério que envolveu o jornalista português Brito Camacho, além de outro episódio que incluía o destinatário e o escritor brasileiro Sebastião Sampaio, interlocutor de João do Rio no diálogo aqui reproduzido.

[Rio de Janeiro], novembro [de] 1912

João, queridíssimo,

Tenho uma coisa impagável. Lembras-te do Amaral França,[1] o elegante senhor do Paiz? Era o amante da madame Camacho![2] O marido, aquele cretino com ares de boneco de alfaiate barato – soube! Soube e teve ciúme. Então mandou cinco, nota bem, cinco amigos seguirem a feia Camacho e quando […]

Esta carta do autor de Capitães da areia foi escrita especialmente para o Calendário Pirelli de 1971, cujo tema era “a Bahia de Jorge Amado”. Nela, o escritor fala de seu estado natal e também de seus livros e personagens famosos, como Dona Flor e Gabriela. Reproduz-se aqui uma pequena parte da edição em livro que pertence ao arquivo de Otto Lara Resende, sob a guarda do Instituto Moreira Salles.

Salvador, junho de 1970

A admiradora perguntou ao pintor Carybé, o mais baiano dos baianos:

— O senhor nasceu na Bahia?

O pintor das mulatas, dos orixás, da puxada de xaréu,[1] da capoeira, respondeu com seu sorriso breve:

— Não mereci, minha senhora.

Bem que merecia e ninguém mais do que ele pois de suas mãos mágicas […]

Depois de trabalhar como educadora numa fazenda no Rio de Janeiro, Ina von Binzer assumiu a educação dos filhos do doutor Martinico Prado, em São Paulo. As crianças tinham nomes romanos: Caio, Plínio, Lavínia, Cordélia e Clélia, inspiradores de Os meus romanos, livro que reúne as cartas escritas por Ina a uma amiga, na Alemanha.

São Paulo, 25 de junho de 1882

Minha Gretele do coração,

Escrevo-lhe dentro de uma densa atmosfera de fumaça de pól­vora. Relanceie um olhar à data acima e compreenderá por quê.

Ontem, foi novamente o dia do Batista (já faz um ano que lhe escrevi de São Francisco!), e aqui na cidade nota-se ainda melhor o que isso representa no Brasil.

O […]

Em 1881, a educadora alemã Ina von Binzer veio para o Brasil contratada por uma família de fazendeiro e senhor de escravos do Estado do Rio de Janeiro. Depois, ela assumiu a educação dos filhos do doutor Martinico Prado, em São Paulo. As crianças tinham nomes romanos: Caio, Plínio, Lavínia, Cordélia e Clélia, inspiradores de Os meus romanos, romance epistolar que reúne as cartas escritas por Ina a uma amiga, na Alemanha.

São Francisco [Rio de Janeiro], 14 de agosto de 1881

Minha Grete do coração,

Neste país, os pretos representam o papel principal; acho que no fundo são mais senhores do que escravos dos brasileiros.

Todo trabalho é realizado pelos pretos, toda a riqueza é ad­quirida por mãos negras, porque o brasileiro não trabalha, e quando é pobre prefere viver como parasita em casa dos parentes […]