A indignação de Clarice Lispector contra o conceito de estudantes “excedentes”, durante o governo do general Costa e Silva (1967-1969), levou-a a escrever esta carta, tão lúcida quanto desafiadora, ao ministro da Educação, Tarso Dutra. Efeito ou não desta carta, em abril de 1969, o ministro assinaria decreto autorizando o aproveitamento de 3.522 “excedentes”.

[Rio de Janeiro], 17 de fevereiro de 1968

Em primeiro lugar queríamos saber se as verbas destina­das para a educação são distribuídas pelo senhor. Se não, esta carta deveria se dirigir ao presidente da República. A este não me dirijo por uma espécie de pudor, enquanto sin­to-me com mais direito de falar com o ministro da Educação por já ter sido estudante.

O […]

Contemplada com a prestigiosa Bolsa Humboldt, cujo lema é “não investimos em projetos, mas em pessoas”, a historiadora de arte brasileira Paula Ramos escreve, de Berlim, a convite do Correio IMS, sobre as prime­­iras descobertas durante uma estadia que se prolongará por 18 meses. Autora do magnífico A modernidade impressa – artistas ilustradores da Livraria do Globo – Porto Alegre, Paula se dedicará à pesquisa da formação do artista João Fahrion, na Alemanha dos anos 1920.

Berlim, 23 de julho de 2018

Para os que trabalham no ambiente acadêmico e gostam de estudar e de pesquisar, há poucos países tão interessantes e desafiadores quanto a Alemanha. Com suas universidades, laboratórios, bibliotecas, museus, centros de documentação e instituições de fomento, o país atrai, anualmente, centenas de estudantes e investigadores estrangeiros. Muitos vêm beneficiados por bolsas oriundas de seus […]

A atuação de Darcy Ribeiro, ao lado de Anísio Teixeira, nos rumos da educação no Brasil não os deixou impunes durante a ditadura militar. Alguns meses depois do golpe, Darcy, ainda muito marcado pela sensação de fracasso de que foi tomada toda a esquerda, e ainda incerto em relação aos desdobramentos da situação política, compartilha sua apreensão com o amigo. O momento não lhe permitia pensar em um sistema que, na verdade, duraria 21 anos.

[Montevidéu], 11 de novembro de 1964

Meu querido mestre Anísio,

Só agora ouso escrever-lhe pelo temor que tinha de ainda mais comprometê-lo. Uma das coisas que mais me doeu de tudo o que passou foi ver repetir-se, pela segunda vez, sobre sua cabeça, a onda de despotismo. E, também, o pouco que conversávamos nos últimos meses em que eu vivia naquela […]