A cronista brasileira Elsie Lessa envia ao filho, o jornalista Ivan Lessa, esta carta em que faz uma espécie de levantamento genealógico afetuoso da família, especialmente de sua avó, bisavó de Ivan. Escrita em Londres, para onde Elsie Lessa se mudara com seu companheiro, Ivan Pedro Martins, havia três anos, ela quis estar perto do único filho e acompanhar o crescimento da neta, Juliana, nascida em 1976.

Londres, 30 de setembro de 1980

Meu filho,

Afinal chegou o dia desta carta, que me pesa nas entranhas acho que desde o dia – foi 27 de novembro – em que senti você mexendo dentro delas. Sossegue, não é briga. Só amor, nós que somos gente de briga, violentos, temperamentais. Somos. Aceite. Difícil eu […]

Vinicius de Moraes escreveu esta carta para seu único filho homem, Pedro, a quem deixa como legado “a insensatez de um coração constantemente apaixonado” – afirma o poeta nesta espécie de testamento poético-afetivo. O legado, na verdade, se revelaria mais concreto: por ter vivido em estimulante ambiente intelectual e artístico, Pedro desenvolveria seu talento para as artes visuais. Tornou-se fotógrafo e coautor, com o pai, do livro O mergulhador, de 1968, obra que reúne fotos suas e poemas de Vinicius. Outro filho que teve a sorte de receber notável carta do pai foi o pianista Nelson Freire, aqui lida em Afetuosamente, o papai. Contrasta com a dura incumbência que deu Rubem Braga ao filho, Roberto Braga, sobre providências a serem tomadas com a sua morte, aqui disponível em Não ceda aos símbolos da morte.  

Pedro, meu filho…

Como eu nunca lutei para deixar-te nada além do amanhã indispensável: um quintal de terra verde onde corra, quem sabe, um córrego pensativo; e nessa terra, um teto simples onde possas ocultar a terrível herança que te deixou teu pai — a insensatez de um co­ração constantemente apaixonado.

E porque te fiz […]

Com a proximidade do primeiro de maio, dia do aniversário de 37 anos de Otto Lara Resende, que, na ocasião, era adido cultural na Embaixada do Brasil, em Bruxelas, Hélio Pellegrino, então com 35 anos, escreve esta carta comovente e afetuosa em que reflete sobre a passagem do tempo e a maturidade.

Rio de Janeiro, 18 de abril de 1959

Meu excelente Otto,

Escrevo-lhe, depois do almoço, em plena tarde de verão, já que esse dadivoso calor carioca não mais se desprega da pele da cidade. Grudou-se a ela, a nós todos, e nos suga pachorrentamente, gruda e gordíssima sanguessuga que nos espreme os poros, os ossos, os poços.

Acabo de passar os olhos no […]

Anos após a perda do irmão, Paschoal Carlos Magno escreveu esta carta ao sobrinho, Armando, que criara como filho. A retrospectiva revela a ternura e o empenho com que o tio cuidou da formação de Armando na atual Casa Paschoal Carlos Magno, que abriga o Teatro Duse, em Santa Teresa.

S.l., 1º de janeiro de 1953

Tinhas meio palmo de altura quando ficaste órfão.

Teu pai era um dos homens mais feios do mundo; mas inteligente e culto, com uma con­versa fascinante. E viajadíssimo.

Daí em diante tomei a tarefa de olhar por ti como se fosses meu filho.

E cresceste na nossa casa tão cheia de livros de teatro, de […]

O cotidiano de Luiz Carlos Prestes na prisão pode ser conhecido nesta e em outras cartas graças à campanha para libertação dos presos políticos, liderada por sua mãe, Leocadia Prestes, que teve ganhos importantes como a permissão para se corresponder com o filho. Lendo esta carta, é possível, hoje, saber das aflições e saudades do líder comunista, que seria solto apenas em 1945 com a anistia.

Rio [de Janeiro], 28 de dezembro de 1937

Minha querida mamãe,

Se receberes estas linhas, como espero, a tua alegria será tão grande quanto a minha, desde ontem. Imagina tu, querida mãe, que as tuas cartas me estão sendo novamente entregues e tudo me faz crer que, afinal, se restabelece a regularidade de nossa correspondência. No dia 22 recebi as tuas linhas de […]