No dia seguinte à morte de Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura, assassinado nos porões do DOI-CODI, os estudantes rapidamente se organizaram para enviar esta carta aos jornalistas brasileiros. O movimento era uma necessária reação às violências e arbitrariedades da ditadura militar que, em 1975, atingia um nível agudo com sequestros, prisões e desaparecimentos. A convocatória parece ter surtido efeito: o Sindicato dos Jornalistas, junto com diversos movimentos estudantis, organizaram um ato ecumênico que reuniu 8.000 pessoas na Catedral da Sé em memória de Herzog.

[26 de outubro de 1976]

Aos jornalistas

Nos últimos dias foram presos em São Paulo e no resto do país dezenas de pessoas. As prisões atingiram indiscriminadamente estudantes, profissionais liberais, professores, sindicalistas, operários e membros do partido reconhecido pelo Governo, o MDB. Entre eles, 10 jornalistas.

Essas prisões tiveram todas as mesmas características: o sequestro, a incomunicabilidade. As pessoas foram […]

Quando o mundo começava a amargar os horrores da Segunda Guerra Mundial, o húngaro Paulo Rónai se dedicava, solitário, a aprender português em sua terra natal. Mais que isso: ele traduziria 33 poemas de 23 poetas brasileiros, reunidos na publicação Brazilia Üzen: Mai Brazil költök [Mensagem do Brasil: os poetas brasileiros da atualidade]. Aquela era a primeira vez que, na Europa Central, “liam-se versos brasileiros e se podia entrever a existência do Brasil, até então só conhecido como produtor de café”, afirma ele. A inédita iniciativa intelectual, reconhecida pelo então presidente Getúlio Vargas nesta carta, foi uma espécie de passaporte para o professor e tradutor fugir dos campos de concentração em direção ao Brasil, sua pátria por adoção.

Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1939

Ao Senhor Professor Paulo Rónai.

Tenho a satisfação de acusar o recebimento do vosso livro Brazilia Üzen [Mensagem do Brasil], contendo poesias brasileiras traduzidas para o idioma húngaro, que, com uma amável carta, […]

O cotidiano de Luiz Carlos Prestes na prisão pode ser conhecido nesta e em outras cartas graças à campanha para libertação dos presos políticos, liderada por sua mãe, Leocadia Prestes, que teve ganhos importantes como a permissão para se corresponder com o filho. Lendo esta carta, é possível, hoje, saber das aflições e saudades do líder comunista, que seria solto apenas em 1945 com a anistia.

Rio [de Janeiro], 28 de dezembro de 1937

Minha querida mamãe,

Se receberes estas linhas, como espero, a tua alegria será tão grande quanto a minha, desde ontem. Imagina tu, querida mãe, que as tuas cartas me estão sendo novamente entregues e tudo me faz crer que, afinal, se restabelece a regularidade de nossa correspondência. No dia 22 recebi as tuas linhas de […]

O aumento da repressão provocado pelo AI-5 em 1968 fez com que a correspondência do pensador Alceu Amoroso Lima com sua filha Maria Teresa, madre no mosteiro de Santa Maria, em São Paulo, se tornasse cada vez mais indignada com a posição de amigos e da imprensa diante do regime militar instaurado em 1964. “Como você vê, não vejo nenhuma janela próxima por onde se possa respirar”, escreve nesta carta, no momento em que o país vivia sob a presidência de Arthur da Costa e Silva.

Petrópolis, 9 de fevereiro de 1969

Já quase meio-dia. Leitura descansada dos jornais, embora estes continuem a apresentar o aspeto melancólico e, sobre­tudo, o Correio da Manhã, de uma imprensa autoamordaçada pelo militotalitarismo que é, agora, o regime a que estamos submetidos desde o trágico dia 13 de dezembro de 1968, em que se consumou – por tempo indefinido – a […]

Protagonistas de uma história de amor e de política, Olga Benário Prestes e Luiz Carlos Prestes casaram-se e continuaram a cumprir a missão da Internacional Comunista no Rio de Janeiro. Presa e depois extradita para a Alemanha, Olga deu à luz Anita Leocádia numa prisão em Berlim. De lá, escreveu esta carta ao marido, preso no Rio, dando notícias de Pom-Pom, apelido da filha, que seria libertada em 1938.

Berlim, 9 de agosto de 1937

Carlos, meu querido,

Conforme o prometido, quero escrever-te. Inicialmente, desejo falar-te da permissão que obtive para conversar com a madame Ewert.[1] Por fim as administrações cederam às mesmas solicitações repetidas e, assim, pude revê-la pela primeira vez após dez meses e mostrar-lhe nossa filhinha. Compreenderás que, após todos os sofrimentos comuns, eu a […]