No Dossiê Mamãe, Coragem!, publicamos trechos de três cartas de Torquato Neto que dialogam com as dificuldades do trabalho artístico no Brasil. Na primeira, destinada ao artista plástico Hélio Oiticica, o poeta descreve as “transas” para o lançamento da Navilouca (1974), revista em número único idealizada ao lado de Waly Salomão. Na mesma carta, manifesta o seu rompimento com Glauber Rocha e o Cinema Novo. Já na segunda missiva, para o mesmo destinatário, Torquato comenta sobre uma viagem a Teresina, sua cidade-natal, eternizada nos versos da canção “Mamãe, coragem”. A carta revela que o autor encontrava em Teresina a ociosidade necessária ao fazer literário. A trinca epistolar se completa com a carta ao jornalista Almir Muniz em que Torquato se opõe à possibilidade de greve no jornal Última Hora. O Dossiê Mamãe, Coragem! traz a ambiência dos anos 1970 com as publicações de revistas marginais, como O Verbo Encantado, Presença e Flor do Mal, e afirma a ideia de um artista que desafinava o coro dos contentes.

Navilouca: uma revista como o Rei Momo

Rio [de Janeiro], 10 de maio de 1972

Hélio, querido:

Salve.

Acho que não apenas eu não tenho escrito muito: pergunto a Waly e a todo mundo e parece que ninguém tem falado: deve ser falta de assunto: pelo menos o meu caso. Desde o carnaval não tenho […]

Sua mãe, Clarice

De: Clarice Lispector Para: Pedro Gurgel Valente

Dois anos antes de morrer, Clarice Lispector escreve uma carta afetuosa ao filho mais velho, Pedro Gurgel Valente, sobre o bem-estar que sentia ao pintar. Aqui, reúnem-se duas facetas de Clarice: a maternidade e o fascínio pelas artes plásticas. Dentre os vinte quadros pintados pela escritora, dois fazem parte do acervo do Instituto Moreira Salles e estarão, em breve, na exposição dedicada a Clarice no ano de seu centenário.

Rio, 25 de julho de 1975

Pedro, meu querido filho, como vai?

Lembre-se ainda que eu às vezes pintava quadros, e você também? Pois agora comprei tintas de acrílico, pincéis e telas – é uma libertação pintar. Liberta mais do que escrever.

 

            Sua mãe


 

Neste vídeo de 2014, Paulo Gurgel Valente, filho de Clarice, […]

A cronista brasileira Elsie Lessa envia ao filho, o jornalista Ivan Lessa, esta carta em que faz uma espécie de levantamento genealógico afetuoso da família, especialmente de sua avó, bisavó de Ivan. Escrita em Londres, para onde Elsie Lessa se mudara com seu companheiro, Ivan Pedro Martins, havia três anos, ela quis estar perto do único filho e acompanhar o crescimento da neta, Juliana, nascida em 1976.

Londres, 30 de setembro de 1980

Meu filho,

Afinal chegou o dia desta carta, que me pesa nas entranhas acho que desde o dia – foi 27 de novembro – em que senti você mexendo dentro delas. Sossegue, não é briga. Só amor, nós que somos gente de briga, violentos, temperamentais. Somos. Aceite. Difícil eu […]

Os bastidores da transferência de Cyro dos Anjos, que, por manobras bem-sucedias no Itamaraty, deixava de reger a cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade do México para assumir a mesma função em Lisboa ocupam a primeira parte desta carta. Na segunda, o verso drummondiano “a ausência é um estar em mim” ganha força quando o poeta passa a escrever sobre suas saudades depois de assistir à exumação dos ossos da mãe.

Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1954

Em primeiro lugar, venha de lá um abraço pelo súbito imprevisto e feliz resultado do affaire Lisboa, que assinala a primeira e modesta vitória de um mineiro sobre a grei nortista, nestes 450 anos de vida brasileira. Só não lhe telegrafei transmitindo a grata notícia porque soube que o Chermont[1] já o fizera. […]

O cotidiano de Luiz Carlos Prestes na prisão pode ser conhecido nesta e em outras cartas graças à campanha para libertação dos presos políticos, liderada por sua mãe, Leocadia Prestes, que teve ganhos importantes como a permissão para se corresponder com o filho. Lendo esta carta, é possível, hoje, saber das aflições e saudades do líder comunista, que seria solto apenas em 1945 com a anistia.

Rio [de Janeiro], 28 de dezembro de 1937

Minha querida mamãe,

Se receberes estas linhas, como espero, a tua alegria será tão grande quanto a minha, desde ontem. Imagina tu, querida mãe, que as tuas cartas me estão sendo novamente entregues e tudo me faz crer que, afinal, se restabelece a regularidade de nossa correspondência. No dia 22 recebi as tuas linhas de […]