Munido do seu usual sarcasmo, Oswald de Andrade escreveu em 1946 uma crônica em que relatava um episódio vivido em sua infância: o espancamento de uma mulher negra em frente à janela de casa. A experiência levou o escritor paulista a abandonar o diploma de bacharel em Direito e criticar, no artigo, a complacência dos advogados com as injustiças da sociedade brasileira. O texto não passou sem resposta. Cultor da representação de advogado defensor dos oprimidos, Sobral Pinto enviou a Oswald esta carta em favor da classe que, frente à opinião pública, ele representava melhor do que ninguém. Sobral na verdade protegia seu próprio legado, marcado pela ideia de advocacia como missão pública de defesa da sociedade e, sobretudo, dos mais pobres.
Rio de Janeiro, 26 de abril de 1946
Sr. Oswald de Andrade,
Recebi, nesta heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde há quase 30 anos vegeto como advogado, o seu “Telefonema”, transmitido pelas linhas do Correio da Manhã de terça-feira, 23 do corrente, através da estação da página 2 e do número […]