Munido do seu usual sarcasmo, Oswald de Andrade escreveu em 1946 uma crônica em que relatava um episódio vivido em sua infância: o espancamento de uma mulher negra em frente à janela de casa. A experiência levou o escritor paulista a abandonar o diploma de bacharel em Direito e criticar, no artigo, a complacência dos advogados com as injustiças da sociedade brasileira. O texto não passou sem resposta. Cultor da representação de advogado defensor dos oprimidos, Sobral Pinto enviou a Oswald esta carta em favor da classe que, frente à opinião pública, ele representava melhor do que ninguém.  Sobral na verdade protegia seu próprio legado, marcado pela ideia de advocacia como missão pública de defesa da sociedade e, sobretudo, dos mais pobres.

Rio de Janeiro, 26 de abril de 1946

Sr. Oswald de Andrade,

Recebi, nesta heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde há quase 30 anos vegeto como advogado, o seu “Telefonema”, transmitido pelas linhas do Correio da Manhã de terça-feira, 23 do corrente, através da estação da página 2 e do número […]

Tradutor sensível do sentimento de perda que desfalcou o quarteto dos mineiros quando morreu Hélio Pellegrino, Antonio Candido expressa a tristeza e solidariedade indissociáveis em momentos assim. Estava com 70 anos quando escreveu esta carta, e já apreendia saudades da vida. Ironicamente, neste 12 de maio, dia de sua morte, muitos brasileiros encontram nas palavras dele, aqui transcritas, uma  expressão em comum.

Poços de Caldas, 2 de abril de 1988

Caros Fernando, Otto e Paulo:

Como só tenho certeza quanto ao endereço atual do Otto, mando para lá esta carta que aliás é mesmo indivisa, porque numa hora dessas não consigo pensar em cada um, mas em vocês três, mutilados do quarto amigo, cuja falta vão com certeza sentir em conjunto, como um corpo que […]

Incluída na primeira edição de Passeios na ilha, de 1952, esta carta/ crônica de Drummond é uma louvação a quem nasceu neste mês que, quase de maneira banal, é relacionado a flores, noivas e temperatura amena. Muito além do trivial, é por meio de evocação dos clássicos que o cronista, sem deitar erudição, homenageia o leitor ou aniversariante do mês.

Amigos e amigas que nascestes em maio:

Estas letras e este autor aqui estão simplesmente para se integrarem na poesia dessa circunstância e avivá-la em vós, se acaso vai murchando, como sugeri-la a todos os outros seres, infortunados seres que nasceram em março, em junho, em novembro. Porque vosso nascimento é pura canção, mesmo que […]

Musa de Henri-Georges Clouzot, cineasta francês com quem se casou em 1948, Vera Gibson Amado, filha de Gilberto Amado e Alice Gibson, teve sua carreira no cinema precocemente interrompida, aos 46 anos, ao sofrer um ataque cardíaco em Paris, onde vivia. Nesta carta aberta, Rachel de Queiroz se solidariza com o pai da jovem atriz.

S.l., 4 de fevereiro de 1961

Desde que li nos jornais a notícia da morte de Vera, Vera Amado Clouzot, a estrela de cinema, Vera, a sua filhinha, desde esse dia que fico inventando palavras de consolo para lhe dizer e não encontro nenhuma. É fácil, há muito que falar quando se trata da perda de outros amores. Mas filho não. […]

Menos de um ano depois de tornar-se ministro das Comunicações, Sérgio Motta sofreu um infarto agudo e se submeteu a cirurgia cardíaca para implantação de três pontes de safena e uma mamária. Na ocasião, recebeu este telegrama do ator Paulo Autran, que, em outubro de 1983, passara por situação semelhante enquanto filmava a novela Guerra dos Sexos, da Rede Globo.

São Paulo, 25 de setembro de 1995

Caro Serjão,

Ganhei de você. Tenho cinco pontes há 12 anos. Meu arquiteto também foi Sérgio Oliveira. Parabéns. Abraços de seu ex-contratado,[1]

Paulo Autran

Arquivo Paulo Autran/ Acervo IMS

[1] N.S.: Refere-se à peça Doutor Knock, de Jules Romains, dirigida por Paulo Autran e produzida por Sérgio […]