O choque da notícia da morte do cronista e compositor Antônio Maria, em 15 de outubro de 1964, provocou em Vinicius de Moraes uma tal comoção que ele não pôde esperar mais do que algumas horas  para escrever esta carta de ternura e dor, incluída em Para uma menina com uma flor, de 1966.

Aí está, meu Maria… Acabou. Acabou o seu eterno sofrimento e acabou o meu sofrimento por sua causa. Na madrugada de 15 de outubro em que, em frente aos pinheirais destas montanhas queridas, eu me sento à máquina para lhe dar este até sempre, seu imenso coração, que a vida e a incontinência já haviam […]

Tradutor sensível do sentimento de perda que desfalcou o quarteto dos mineiros quando morreu Hélio Pellegrino, Antonio Candido expressa a tristeza e solidariedade indissociáveis em momentos assim. Estava com 70 anos quando escreveu esta carta, e já apreendia saudades da vida. Ironicamente, neste 12 de maio, dia de sua morte, muitos brasileiros encontram nas palavras dele, aqui transcritas, uma  expressão em comum.

Poços de Caldas, 2 de abril de 1988

Caros Fernando, Otto e Paulo:

Como só tenho certeza quanto ao endereço atual do Otto, mando para lá esta carta que aliás é mesmo indivisa, porque numa hora dessas não consigo pensar em cada um, mas em vocês três, mutilados do quarto amigo, cuja falta vão com certeza sentir em conjunto, como um corpo que […]

Joaquim Nabuco e Eufrásia Leite protagonizaram um dos mais célebres romances do Brasil no século XIX. O relacionamento durou quatorze anos, até 1887, período em que se corresponderam, apesar dos incontáveis rompimentos a que se seguiam doces reconciliações. Poucas são as cartas que restaram desse período. Dois anos depois da separação, Nabuco se casou com Evelina Ribeiro. Eufrásia jamais se casaria.

Dakar [Senegal], bordo do Congo, 31 de dezembro de 1885

Não imagina que tristeza, que saudades e que arrependimento de ter deixado o Brasil. Quando penso que em janeiro poderíamos estar juntos, ao menos poderia ter notícias suas, de sua eleição,[1] saber o que se passa ou o que vai fazer, e não estar inquieta como estou, temendo que lhe aconteça alguma coisa, […]

Musa de Henri-Georges Clouzot, cineasta francês com quem se casou em 1948, Vera Gibson Amado, filha de Gilberto Amado e Alice Gibson, teve sua carreira no cinema precocemente interrompida, aos 46 anos, ao sofrer um ataque cardíaco em Paris, onde vivia. Nesta carta aberta, Rachel de Queiroz se solidariza com o pai da jovem atriz.

S.l., 4 de fevereiro de 1961

Desde que li nos jornais a notícia da morte de Vera, Vera Amado Clouzot, a estrela de cinema, Vera, a sua filhinha, desde esse dia que fico inventando palavras de consolo para lhe dizer e não encontro nenhuma. É fácil, há muito que falar quando se trata da perda de outros amores. Mas filho não. […]

Apelos não faltaram da parte de madre Maria José de Jesus para que seu pai, o historiador Capistrano de Abreu, se convertesse ao catolicismo. Tampouco precisou de mais humildade, pois a tinha de sobra, para implorar o perdão do pai, que nunca aceitaria a escolha da filha, como mostra esta carta escrita dez anos depois que ela fez os votos de carmelita descalça no Convento de Santa Teresa.

Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1922

Meu pai muito querido,

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Foi hoje, há onze anos, que pela última vez lhe beijei as mãos pedindo-lhe perdão dos inumeráveis desgostos que lhe dei com minhas faltas. Foi hoje: grande dia! Dia do triunfo da graça, da manifestação da Onipotência e da Misericórdia de Deus. Creia, meu pai, […]