Com um olhar sobre a violência neocolonial no continente africano, André Rebouças parte do Brasil para se estabelecer como engenheiro em Angola, atuando na construção de estradas de ferro e na introdução da lavoura de café. Permanece pouco mais de um ano na África do Sul, de onde escreve para seu amigo, Alfredo Taunay. Leitor e amante dos clássicos gregos, que vão de Homero, Ésquilo a Sócrates, Rebouças comenta sobre astronomia e sua ação enquanto professor de cálculo na terra de seus ancestrais.

4 de abril de 1893

Meu querido Taunay,

Parece-me que minhas cartas, durantes a crise de mudança do Transvaal para Cape Town, foram por demais negras e africanas: porque, a 16 de fevereiro, escreveu: “Libertando-se da opressão do continente negro e mártir, do qual não tens colhido senão combates estéreis e angustiosas decepções”.

Em 1946, o escritor mineiro João Guimarães Rosa lançava Sagarana, livro de contos que introduziu a temática regionalista universalista, pela qual se notabilizaria. A chegada ao hibridismo entre saga, radical germânico que significa lenda, e rana, palavra de origem tupi que expressa semelhança, levou tempo. A primeira versão da obra data de 1938, quando o escritor, sob o pseudônimo de Viator, inscreveu o livro então intitulado Contos no concurso Humberto de Campos, promovido pela livraria José Olympio. Desbancado por Maria Perigosa, de Luís Jardim, o livro terminou na segunda colocação. Contudo, as doze histórias ambientadas no sertão de Minas Gerais deram corpo a um clássico da literatura brasileira. Em carta ao jornalista João Condé, autor da coluna Arquivos implacáveis, Rosa explicou detalhadamente o processo criativo de Sagarana.

[Sem data]

Prezado João Condé,

Exigiu você que eu escrevesse, manu propria, nos espaços brancos deste seu exemplar de Sagarana, uma explicação, uma confissão, uma conversa, a mais extensa, possível — o imposto João Condé para escritores, enfim. Ora, nem o assunto é simples, nem sei eu bem o que contar. Mirrado pé de couve, seja, o […]

Diplomata brasileiro que representou o Brasil com raro fervor, Ribeiro Couto não dissociou a carrière, como gostava de se referir à sua carreira diplomática, da vida pessoal. Nesta carta a um de seus colaboradores, e com o bom humor de sempre, lê-se o testemunho de um espírito tão apaixonado quanto profissional.

Belgrado, 22 de agosto de 1954.

Meu caro Vasco,

Estou escrevendo às quatro da madrugada. Sua carta de doze do corrente me deu grande prazer. Há muito que não tinha notícias suas, mas era evidente que você deveria estar atrapalhado com os habituais incômodos da instalação.

Gostei de saber das suas próximas gravações com o grande Mignone.

Tenho trocado cartas com […]

Diplomata e morador de Belgrado, capital da atual Sérvia e Montenegro, Ribeiro Couto, o romancista de Cabocla, passava férias na França quando escreveu esta carta bem-humorada a respeito do tratamento a que se submetia na estação de cura francesa. O destinatário é o amigo e escritor Afonso Arinos de Melo Franco, então deputado federal por Minas Gerais.

Vittel [França], 29 de junho de 1956

Afonsoca,

Estou tendo a surpresa de receber de Belgrado esta carta que te enviei para Roma e tem o carimbo de 23 de fevereiro. A Embaixada em Roma, ao invés de procurar recambiá-la para o endereço que porventura hajas ali deixado (se o deixaste), acabou, quatro meses depois, por devolvê-la…

Não sei de que carta […]

Do sítio do amigo Octavio de Faria, em Itatiaia, onde penava um dos primeiros desencontros amorosos que experimentaria na vida, o poeta do “Soneto de fidelidade” escreve à mãe, dona Lydia, sobre seu estado de espírito.

Itatiaia, 13 de janeiro de 1935

Minha mãe,

Só agora me sinto com um pouco mais de coragem para me sentar e escrever. Estava espatifado. Depois de ter passado quase que toda a noite em claro e de ter feito uma viagem em que a maior preocupação foi “não formar ambiente de enterro”, cheguei ao sítio mais morto do que vivo, […]