Em 17 de junho de 1962, a seleção brasileira conquistou o bicampeonato mundial, após derrotar a Tchecoslováquia por 3 a 1, no Estádio Nacional do Chile, em Santiago. Dois dias depois, Antônio Maria publicou, com exclusividade, em sua coluna no periódico O Jornal, uma carta de Vinicius de Moraes dirigida ao cronista. Na missiva, o poeta fez mais do que uma análise futebolística aguçada: pensando sobre o Brasil, discorreu sobre a frase “Nós somos um país de pessoas”, dita por Antônio Maria, cronista que completaria cem anos em 2021. As homenagens serão conduzidas pelo Portal da Crônica Brasileira.

Rio de Janeiro, 19 de junho de 1962

Olha, meu Maria, sofrimento pior do que o jogo contra a Tchecoslováquia, só mesmo sofrimento de amor ­­– e, assim mesmo, não sei não… Quando se ama uma mulher e ela, em geral, com toda razão, briga com a gente e quer se separar, e toda essa coisa, fica-se desarvorado, tomam-se pileques transmontanos, briga-se na […]

Na década de 1960, a dupla Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade se articulava para organizar e publicar uma “certa antologia” que incluiria um texto de Antônio Maria. Apesar de o projeto não ter avançado, o cronista pernambucano, emocionado, se dirige ao poeta itabirano nesta carta-crônica.

Embora não seja de me alegrar à toa, eis-me contentíssimo, com o telefonema recebido esta manhã. Do outro lado da linha, Carlos Drummond de Andrade a me pedir uma crônica sobre o Rio, para certa Antologia, que ele e Manuel Bandeira estão preparando. Claro, meu exultamento não tinha nada a ver com a […]

Aos 62 anos, o já consagrado Drummond relembra episódios da infância vividos com o pai Carlos de Paula Andrade, presente em alguns de seus poemas e crônicas drummondianas. Nesta carta/crônica, publicada no jornal carioca Correio da Manhã, onde o poeta e cronista colaborou três vezes por semana durante 15 anos, ele recorda afetuosamente uma preciosa lição do pai que não pôde ser cumprida: “o essencial em duas palavras”.

 [Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1964]

Às vezes o senhor me chamava para seu secretário, e isso me enchia de orgulho. Eu pequeno, o senhor tão grande — maior que um homem comum aos olhos de qualquer menino. Tudo no lugar era pequeno e doméstico, e o senhor, sim, era grande — começa […]

A indignação de Clarice Lispector contra o conceito de estudantes “excedentes”, durante o governo do general Costa e Silva (1967-1969), levou-a a escrever esta carta, tão lúcida quanto desafiadora, ao ministro da Educação, Tarso Dutra. Efeito ou não desta carta, em abril de 1969, o ministro assinaria decreto autorizando o aproveitamento de 3.522 “excedentes”.

[Rio de Janeiro], 17 de fevereiro de 1968

Em primeiro lugar queríamos saber se as verbas destina­das para a educação são distribuídas pelo senhor. Se não, esta carta deveria se dirigir ao presidente da República. A este não me dirijo por uma espécie de pudor, enquanto sin­to-me com mais direito de falar com o ministro da Educação por já ter sido estudante.

O […]

O choque da notícia da morte do cronista e compositor Antônio Maria, em 15 de outubro de 1964, provocou em Vinicius de Moraes uma tal comoção que ele não pôde esperar mais do que algumas horas  para escrever esta carta de ternura e dor, incluída em Para uma menina com uma flor, de 1966.

Aí está, meu Maria… Acabou. Acabou o seu eterno sofrimento e acabou o meu sofrimento por sua causa. Na madrugada de 15 de outubro em que, em frente aos pinheirais destas montanhas queridas, eu me sento à máquina para lhe dar este até sempre, seu imenso coração, que a vida e a incontinência já haviam […]