Aqui estão as contas do correioIMS. Como manda a tradição, apresentamos as cartas e os ensaios mais lidos deste ano. Os assuntos são, como sempre, diversos. Entre as correspondências, a carta de Clarice Lispector ao então ministro da Educação, Tarso Dutra, foi hors concours. Já o ensaio “Maria Bethânia, please, send me a letter”, do jornalista Ricardo Viel, teve a maior audiência do nosso blog.

 As cartas mais lidas

 No dia 17 de abril de 1968, a autora de A paixão segundo G.H., livro publicado quatro anos antes, mostrou-se indignada em carta aberta ao ministro da Educação, Tarso Dutra. Clarice desaprovara o conceito de “estudantes excedentes”, surgido durante o governo Costa e Silva. “Que estas páginas simbolizem uma passeata de protesto de rapazes e moças”, definiu Clarice.

O segundo lugar ficou com Alfonso Reyes, ex-embaixador do México no Brasil, e Ribeiro Couto, escritor e diplomata brasileiro na Sérvia. Pelas cartas, separadas por duas décadas, soubemos que Ribeiro Couto estivera por trás das origens do conceito de homem cordial, que seria cunhado por Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil. Assim se expressou Ribeiro Couto a Alfonso Reyes: “(…) a Família dos Homens Cordiais, esses que se distinguem do resto da humanidade por duas características essencialmente americanas: o espírito hospitaleiro e a tendência à credulidade”.

Já a terceira colocação foi ocupada por uma carta de teor mais existencial. O psicanalista Hélio Pellegrino escreveu ao jornalista Otto Lara Resende sobre a passagem do tempo. “Amadurecer é perder o orgulho, meu caro Otto. E perder o orgulho é poder ser pai”, registrou Pellegrino, após parágrafos ternos e filosóficos.

Os ensaios mais lidos

Quando ia a Lisboa, Maria Bethânia costumava frequentar o restaurante Farta Brutos, onde era recebida com muita festa pelo antigo dono, Francisco Oliveira. No ensaio “Maria Bethânia, please, send me a letter”, o jornalista Ricardo Viel revelou um caso anedótico entre o sr. Oliveira e a cantora. “A Maria Bethânia terminava de jantar e eles ficavam à conversa. Quando ela ia embora, ainda havia sempre um pouco de uísque no copo e então meu pai dizia: leva para o hotel, dona Maria. No dia seguinte ela mandava o motorista trazer o copo de volta, lavadinho”, lembrou o filho do ex-dono. Até hoje, o objeto recebe cartas de admiradores da artista, que acaba de lançar um novo álbum, “Mangueira – A menina dos meus olhos”.

A vice-liderança ficou com “Cartas náuticas de um Colombo do amor”, ensaio do professor da PUC-Rio Fred Coelho. Trata-se de uma análise do conto “Miss Dollar” escrito pelo Machado de Assis, em uma fase de experimentações para os seus primeiros romances, Ressureição (1872),  A mão e a luva (1874),  Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878). Em “Miss Dollar”, o jovem médico dr. Mendonça apaixona-se por Margarida, a quem destina em vão inúmeras cartas de amor. “Por fim, se como disse Andrade [amigo de Mendonça], a carta para Margarida seria ‘a certidão de óbito do amor’, a ousadia de Mendonça em insistir nas missivas fez com que tal morte fosse esconjurada”, comentou o ensaísta.

Por último, mas não menos importante, a terceira maior audiência do blog: o ensaio “As epístolas de Henriquinho”, do jornalista Sérgio Augusto. O texto rememora as cartas escritas pelo cartunista Henfil à sua mãe, dona Maria da Conceição Figueiredo. As cartas de Henriquinho, personagem criado por Henfil, foram publicadas, sobretudo, na Isto É, entre 1977 e 1980, e refletiram os principais momentos da política brasileira: “Os medos provocados pela ditadura militar, os depoimentos no exílio do irmão Betinho (o sociólogo Herbert José de Souza), as greves do ABC, a volta dos exilados — está tudo lá, nas ‘Cartas Persas’ do Henriquinho”, escreveu o jornalista.