Viena, 29 de março de 1877

Condessa,

Perdão dos agravos, e sobretudo se tenho sido injusto a respeito de sua amizade. Brigue; tenha os repentes a que não puder resistir, que eu sou cada vez mais seu amigo, e apenas verei nessas manifestações a prova de que você não é indiferente à afeição que lhe consagro. Tomara-me já perto de você que as saudades têm sido muitíssimas e para mim não há diferenças de terras quando sinto que você é sempre a mesma para mim. A música do ofício de trevas esta tarde na capela de Burg foi excelente. Amanhã ouvirei nos Minoritas à tarde o Stabat de Pergolesi.

Muito prazer tive em escrever as cartas que lhe mandei, e se tardaram foi pela razão que já sabe.

Estimo que vá bem de sua dor e possa acompanhar o mais possível quem tanto o deseja. Você parece não gostar de que eu repita quanto sou amigo seu; mas que quer? Não posso deixar de consolar-me assim do que você não me diz muitas vezes, talvez porque eu deva estar inteiramente certo disso, embora você me obrigue em algumas ocasiões a adivinhar pelo muito que eu quero que seja como eu o sinto. Desculpe-me este desabafo que, aliás, não foi frequente durante todos os longuíssimos meses de ausência, e faço ponto aqui ficando-me contudo sempre a ideia de que suas cartas aqui chegam em menos de 48 horas, e eu não posso fazer o mesmo, em sentido contrário.

Adeus! Meu abraço a nosso caro rapaz, e retribuição das lembranças, especialmente a mrs. Maude.

Adeus!

Seu de sempre

Alcindo Sodré. Abrindo um cofre. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1956, pp. 210-211.