Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1957
Querido Rui,
Você é o amigo que desmente o ditado: longe dos olhos, longe do coração. Não calcula como falamos e nos ocupamos com você. Dentro e fora da Academia.
Acontece que, agora, eu é que preciso ocupar-me mais seriamente do poeta Ribeiro Couto, sua vida e obra.
Como você sabe a Instituição Lanagoitti, por iniciativa do Leonídio Ribeiro, encarregou o Afrânio Coutinho de organizar e dirigir uma História literária, da qual já saíram três notáveis volumes.
O Afrânio Coutinho teve a triste ideia de encarregar-me de escrever um capítulo sobre alguns poetas simbolistas e sua rápida passagem pelo Penumbrismo, antes de se atirarem de cabeça e tudo no Modernismo.
Creio que você foi o inventor do Penumbrismo. E como desejo ocupar-me seriamente de você, peço que me mande com a possível urgência:
- Minuciosa informação biográfica.
- Bibliografia completa, com data e características de cada edição.
- Informações, críticas e referências sobre suas obras.
- O que entende ter sido o Penumbrismo.
Estou muito atrasado no trabalho que me encomendaram. Há cinco meses nada faço, pois, depois do falecimento de meu querido genro Ivan Londres, minha cabeça saiu do lugar. Vivo, Laura e eu, quase fora do mundo, ao lado de Ruth, minha filha, tão moça, e seus quatro e lindos filhos. Daqui de onde lhe escrevo (estamos na chácara da Tijuca), vejo-os, bronzeados pelo sol, saltando na piscina. Nunca esperei (habituara-me a ser feliz) que a velhice me reservasse tão grande tristeza, pois a maior tristeza é ver sofrer um filho! Desculpe-me, Ribeiro.
Eu que levei 38 anos sem ir à Europa, lá fui em [19]51 e [19]56, sem conseguir pôr olho em você. Foi pena de verdade.
Em maio de [19]56, ao voltar a Paris, depois de minha primeira estada de cinco dias, escrevi a você uma longa carta, que outra coisa não era senão a esperança de um encontro, de um abraço, de um chope duplo na terrasse de um café de Montparnasse ou de Boulle-Miche…[1]
Infelizmente, esta última viagem desapareceu-me da memória, pois apenas aqui chegados o Ivan caiu gravemente doente, embarcou com Laura e Ruth para os Estados Unidos e lá faleceu!
No entanto, esta minha última viagem deve ter sido a mais bela de todas, a que estava destinada a alimentar de lembranças boas o resto da minha vida. Foi a viagem de Irene, pois levamos em nossa companhia nossa neta que tinha quase 15 anos! Visitou Portugal, Espanha, França e Itália, tudo vendo com encanto, pois levava uma boa iniciação sobre tudo que ia ver.
Vou parar para que você comece logo a escrever as notas que preciso com urgência.
Um afetuoso e fraterno abraço do,
Rodrigo Octavio Filho
Arquivo Ribeiro Couto / Arquivo-Museu de Literatura da Fundação Casa de Rui Barbosa.