A troca de cartas entre Vinicius de Moraes e Chico Buarque a respeito de Valsinha mostra como foi a parceria para essa canção que encantou o público. Gravada por Chico no elepê Construção, de 1971, recebeu, no mesmo ano, as interpretações de Ângela Maria, no elepê Ângela, e do grupo MPB-4 em De palavra… em palavra…

Rio [de Janeiro], 2 de fevereiro [de 1971]

Caro poeta,

Recebi as suas duas cartas e fiquei meio embananado. É que eu já estava cantando aquela letra, com hiato e tudo, gostando e me acostumando a ela. Também porque, como você já sabe, o público tem recebido a valsinha com o maior entusiasmo, pedindo bis e tudo. Sem exagero, ela é o ponto […]

Aproveitando a melodia de um choro de autoria de Francis Hime, Chico Buarque escreveu a letra desta canção/carta dando notícias do Brasil ao amigo Augusto Boal, que estava no exílio, em Lisboa, durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Enviou-a em fita K7 e a gravaria no elepê Meus caros amigos, de 1976, com a participação da flauta de Altamiro Carrilho, do clarinete de Abel Ferreira, do bandolim de Joel Nascimento e, mais uma vez, com Francis Hime ao piano.

Rio de Janeiro, 1976

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu […]

Por ocasião do nascimento de Sílvia Buarque de Hollanda, a primeira filha de Chico Buarque e Marieta Severo, em Roma, em 28 de março de 1969, o flamenguista Cyro mandou uma camisa do Flamengo de presente à recém-nascida. O pai da menina, torcedor do Fluminense, agradeceu com este samba/carta que gravaria em seu disco Chico Buarque de Hollanda nº 4, de 1970. Nesse mesmo ano, o próprio Cyro regravou a canção em seu elepê Alô, jovens, tio Cyro Monteiro canta sambas dos sobrinhos. Gravações à parte, Cyro venceu: Sílvia tornou-se torcedora do Flamengo.

Roma, 1970

Amigo Cyro
Muito te admiro
O meu chapéu te tiro
Muito humildemente
Minha petiz
Agradece a camisa
Que lhe deste à guisa
De gentil presente
Mas caro nego
Um pano rubro-negro
É presente de grego
Não de um bom irmão
Nós separados
[…]