Dois anos mais velho que Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende tinha no amigo o interlocutor de intermináveis conversas desde a juventude, em Belo Horizonte. No Rio de Janeiro, onde, com suas famílias, moraram até o fim da vida, aprofundaram a amizade, só interrompida com a morte de Hélio, assunto desta carta de Otto ao amigo Francisco Iglésias, como se pode ouvir na leitura em vídeo ao final da carta.

Rio de Janeiro, 25 de março de 1988

Iglésias,

Estava querendo lhe escrever para pedir al­guns subsídios sobre o café em Minas Gerais, a come­çar pela tese do João Heraldo Lima. Cheguei a falar disto ao Hélio [Pellegrino] outro dia mesmo.

Aí acontece o que aconteceu. Vi o João no ve­lório e lhe pedi a tese. Ele ficou de mandar. Meu in­teresse obedece […]

Mutuamente magoados por um desentendimento que ameaçava a amizade de muitos anos, alimentada por meio de mais de trezentas cartas em que trataram sobretudo de literatura e história, Francisco Iglésias e Otto Lara Resende buscam esclarecer o episódio que desencadeara a questão na troca de missivas que se reproduz aqui. Esta é a resposta de Otto à carta de Iglésias escrita em 18 de fevereiro. Os dois superariam por completo o problema.

Bruxelas, 21 de fevereiro de 1958

Iglésias,

Recebi hoje de manhã a sua carta. Afinal, por que me zanguei tanto com você? Porque você veio a Paris e não se lembrou sequer de me avisar onde estava, em que dia chegava etc.[1] Senti-me frustrado e perdemos uma boa oportunidade para nos encontrarmos e batermos um papo. Admito que minha […]