Cronista de longa e constante carreira nos importantes periódicos do Rio de Janeiro, Rubem Braga, nesta carta, recusa a homenagem que lhe quer fazer o Jornal do Brasil por ocasião do seu aniversário de sessenta anos, em 12 de janeiro de 1973, e conta ao amigo o motivo de sua saída daquele jornal.

Vitória, 26 [de] dezembro [de] 1972

Otto,

Procurei durante cinco dias falar com você no Rio, sem conseguir. É que eu soubera, pela Maria Lúcia Rangel, que o Jornal do Brasil pretendia fazer uma página pelos meus sessenta anos, inclusive encomendando artigos a Joel [Silveira], Fernando [Sabino], Carlos [Drummond de Andrade] etc. Em Cachoeiro, eu soube que estavam lá no momento […]

De 1967 a 1969, Otto Lara Resende assumiu a função de adido cultural na Embaixada do Brasil em Portugal, onde recebeu esta carta do amigo Millôr Fernandes.

Rio [de Janeiro], 16 de dezembro de 1967

Otto, meu caro, a situação que você me descreve é calamitosa: eu sou popular em Portugal! Você vê que não tem jeito, não; a gente acaba tendo o castigo que merece. Eu, por exemplo, que me venho furtando à popularidade (não por virtude, mas por timidez que, pouco a pouco, vai-se tornando doentia), acabo de […]

Entre 1957 e 1959, Otto Lara Resende serviu como adido cultural na embaixada do Brasil em Bruxelas. Durante a temporada belga (além da lisboeta, nos anos 1960, pelo mesmo motivo), reclamava da falta de resposta dos amigos Hélio Pellegrino, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. Nesta carta/crônica publicada na revista Manchete, o último se dirige ao amigo.

Meu caro Otto,

Sei que você está de malas prontas, depois de dois anos e meio na Europa, para retornar ao Brasil, e assim eu não poderia deixar de adver­ti-lo nesta carta. As coisas aqui em nosso país mudaram muito e de repente; o fito desta é poupar-lhe um cho­que que até poderia desandar em […]

Amigos desde a juventude em Belo Horizonte, Otto e Iglésias trataram sobretudo de literatura ou história nas mais de trezentas cartas que trocaram ao longo da vida. Esta que se reproduz aqui dá lugar ao simplesmente humano, e evidencia um desentendimento causado mais pelo bem-querer do que por qualquer outro sentimento – é o que prova a resposta de Otto, escrita no dia 21 de fevereiro de 1958. Os dois superariam por completo o problema.

Veneza, 19 de fevereiro de 1958

Otto,

Acabo de receber sua carta e apresso-me em dar-lhe resposta. Não vou dar maiores explicações, que não é preciso nem vale a pena. Você diz que eu em minha carta de Belo Horizonte dizia apenas que vinha pelo Charles Tellier, mais nada. Pois pensava ter escrito também que era para você escrever para o […]

Assim como muitos de sua geração, Paulo Mendes Campos deixou seu estado natal, Minas Gerais, para se fixar no Rio de Janeiro. Em meados de 1945, sob o impacto da nova cidade, ele escreveu esta carta ao amigo que ficara em Belo Horizonte. Os dois, somados a Hélio Pellegrino e Fernando Sabino, comporiam o grupo que Otto batizou de “Os quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse”.

[Rio de Janeiro, agosto de 1945]

De onde venho, meu velho, para onde vou? Mas nenhum traço de comoção dramatiza minha voz. Estou calmo, lúcido, fumando. Nem careço rigorosamente de escrever uma carta: ninguém me chama, ninguém me espera, ninguém me denuncia. Iluminando melhor, não é o sentimento para que me sevicia, mas os sentimentos intransitivos, os inumeráveis sentimentos que recolho, […]