Paulo Mendes Campos e muitos escritores de sua geração foram fiéis apreciadores de uísque, presente nos bares cariocas ou nas casas de poetas como Vinicius de Moraes, onde o bom scotch nunca faltava. Esta “Carta de separação” , crônica até hoje inédita em livro, foi publicada na coluna “Primeiro plano”, do Diário Carioca, onde Paulo foi colaborador desde 1946, quando iniciou a coluna semanal “Semana Literária”, até que em 1950 assumisse a coluna diária “Primeiro Plano”, que iria até 1961.

Creio, meu bem, que chegou finalmente o momento de dizermos adeus. Tentei todas as acomodações possíveis. Não posso ser acusado de não ter tido para contigo boa vontade e ca­rinho. Não posso admitir que se diga por aí, à boca pequena, que a culpa foi minha, que não tive compreensão da realidade. Os fatos são […]

Vinte dias depois de Mario Quintana ter completado sessenta anos, Paulo Mendes Campos o homenageou com esta carta, publicada na revista Manchete de 20 de agosto de 1966.

Meu caro poeta: no dia 30 de julho passado fizeste sessenta anos. Não dou os parabéns a ti, mas a mim e a todos os convivas de tua poesia. Imagina que em uma galáxia remota estejam reproduzidas todas as formas terrestres – a antimaté­ria de que falam esses descabelados ro­mânticos da realidade, os físicos moder­nos. […]

Entre 1957 e 1959, Otto Lara Resende serviu como adido cultural na embaixada do Brasil em Bruxelas. Durante a temporada belga (além da lisboeta, nos anos 1960, pelo mesmo motivo), reclamava da falta de resposta dos amigos Hélio Pellegrino, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. Nesta carta/crônica publicada na revista Manchete, o último se dirige ao amigo.

Meu caro Otto,

Sei que você está de malas prontas, depois de dois anos e meio na Europa, para retornar ao Brasil, e assim eu não poderia deixar de adver­ti-lo nesta carta. As coisas aqui em nosso país mudaram muito e de repente; o fito desta é poupar-lhe um cho­que que até poderia desandar em […]

Assim como muitos de sua geração, Paulo Mendes Campos deixou seu estado natal, Minas Gerais, para se fixar no Rio de Janeiro. Em meados de 1945, sob o impacto da nova cidade, ele escreveu esta carta ao amigo que ficara em Belo Horizonte. Os dois, somados a Hélio Pellegrino e Fernando Sabino, comporiam o grupo que Otto batizou de “Os quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse”.

[Rio de Janeiro, agosto de 1945]

De onde venho, meu velho, para onde vou? Mas nenhum traço de comoção dramatiza minha voz. Estou calmo, lúcido, fumando. Nem careço rigorosamente de escrever uma carta: ninguém me chama, ninguém me espera, ninguém me denuncia. Iluminando melhor, não é o sentimento para que me sevicia, mas os sentimentos intransitivos, os inumeráveis sentimentos que recolho, […]