Capitão da artilharia francesa, Alfred Dreyfus foi réu no caso hoje considerado um dos maiores erros judiciários da História. Acusado de ser o autor de uma carta, remetida ao adido militar alemão em Paris, contendo informações sobre recursos e planos de defesa do exército francês, Dreyfus foi submetido a uma cerimônia de degradação no pátio da Escola Militar, no dia 5 de janeiro de 1895, em Paris, ocasião em que lhe quebraram a espada e lhe arrancaram as insígnias da honra militar. Dois dias depois, Rui Barbosa, que estava em Londres, protegendo-se das arbitrariedades do marechal Floriano, e era colaborador no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, escreveu esta carta, publicada nesse jornal em 3 de fevereiro, tornando-se assim o primeiro defensor do capitão Dreyfus. Em 1898, Émile Zola, convencido da inocência do réu, publicaria no jornal L’Aurore uma carta aberta que ficaria conhecida pelo título de “J’accuse” e em que considera o caso “o monumento mais execrável da infâmia humana”. Depois de batalha judiciária que durou doze anos, e de uma deportação cruel à ilha do Diabo, na Guiana Francesa, Dreyfus teve sua inocência provada e a honra reabilitada.

Londres, 7 de janeiro de 1895

Eis aí um fato de expressão quase trágica, sobre o qual se acaba de exercer distintamente a consciência dos dois povos que a Mancha separa: um, na maneira de resolvê-lo; o outro, na de considerá-lo. Decompostas através dele, como dois feixes diferen­tes de luz coados pelo mesmo prisma, destacam-se em matizes característicos certas qualidades de […]

Incentivado pela noiva, a baiana Maria Augusta, Rui Barbosa deixa a Bahia, seu Estado natal, e embarca para o Rio de Janeiro em busca de desenvolvimento de sua carreira jurídica. Luta para vencer as saudades, que descreve nesta carta, mas está certo de ser esse seu caminho na vida.

[Bordo do Habsburg], 26 de maio [de 1876], às cinco e meia da tarde

Aí vem, querida noiva, tão desconsolada e saudosa como as de anteontem e ontem, a noite de hoje. É a hora em que eu me enchia de alvoroço, preparando-me para ver-te. Agora quem me dera um olhar teu, aquela meiguice do teu sorriso, a doçura da tua submissão aos meus desejos, a afetuosa severidade, tão […]

Em 1893, Rui Barbosa travou intensa campanha contra o governo do então presidente marechal Floriano Peixoto nas páginas do Jornal do Brasil. Ao eclodir a Revolta da Armada, movimento desencadeado pela Marinha de Guerra do Rio de Janeiro contra o marechal, em setembro daquele ano, Rui Barbosa, considerado o mentor intelectual do levante, foi obrigado a refugiar-se na própria cidade do Rio, de onde escreve à mulher, antes de partir para o exílio em Buenos Aires.

[Rio de Janeiro], 7 de setembro [de 18]93

Minha Maria Augusta,

Estou experimentando pela primeira vez as “delícias” de ser preso, e preso inocente. Não obstante a fidalguia com que sou tratado, a boa camaradagem em que vivemos com o dono da casa, tipo de qualidades simpáticas e distintas, minha situação de espírito, pela ausência tua e de nossos filhinhos, é infinitamente dolorosa, […]

No dia em que a igreja católica festeja Nossa Senhora da Glória, Rui Barbosa, de volta da Europa, escreve à noiva, que deixara na Bahia.

Corte [Rio de Janeiro], 15 de agosto de 1876

Maria Augusta, minha sempre adorada noiva,

É hoje dia santo, o maior e o mais popular aqui, na corte. A população inteira, por assim dizer, aflui para a Glória, em cuja festa pobres e ricos apuram, ostentam, exageram todos os requintes do luxo numa capital como esta. Tudo é multidão e bulício, bailes e fogos, […]

De volta ao Rio de Janeiro, depois de uma viagem à Europa, Rui Barbosa escreve à noiva sobre as saudades e a expectativa do casamento, que se realizaria no dia 23 desse mesmo mês de novembro.

Corte [Rio de Janeiro], 3 de novembro de 1876

Minha adorada noiva do coração,

Recebi as tuas duas últimas cartinhas, cuja data não menciono, porque escrevo-te do escritório, onde não as tenho presente.

Ambas me encantaram, mas especialmente a segunda, em que respondes às minhas cartas relativas ao nosso próximo casamento. As duas linhas que a propósito disso me diriges encerram em si tal […]