Chegar à PUC-Rio pode parecer algo um tanto tenso: a natural insegurança em ocupar um espaço novo; pessoas e normas ainda desconhecidas… É impossível não sentir aquele frio na barriga! Ainda mais quando ouvimos aquelas histórias de que há professores que dão textos e filmes em inglês sem tradução, de que não se veem alunos e professores negros em sala de aula, de que a principal reivindicação estudantil é a diminuição do preço do estacionamento, de que o pilotis da PUC é um desfile de moda… e por aí vai. Não há um manual que resolva tudo que passa na nossa cabeça nesse momento, mas algumas pistas são importantes para ajudar a descortinar uma nova rotina acadêmica, sem deixar de considerar a nossa realidade econômica, política e social. A primeira delas é não se deixar afetar por tudo que é falado sobre a PUC. As vivências, por mais que existam importantes similaridades coletivas, são individuais e tudo vai depender muito de como você encara o mundo e os desafios colocados. Eu, por exemplo, optei pelo diálogo franco e constante com professores diante das dificuldades pelas quais passei, seja como mãe jovem, trabalhadora e moradora de favela. Desde a limitação concreta de me locomover da Maré até a Gávea, para a primeira aula às sete da manhã, até as atividades extracurriculares que não pude fazer em virtude do meu trabalho ou mesmo pela falta de grana para custeá-las.
Apresentar para quem quer que seja a nossa realidade concreta não é ser vitimista, ainda mais com a perspectiva de trilhar caminhos possíveis e alternativos às limitações encontradas. Nesse sentido, a vice-reitoria comunitária também é uma parceira fundamental para questões objetivas e para oportunidades dentro e fora da universidade. É importante cercar-se de pessoas, sejam colegas de turma, professores ou funcionários, que possam contribuir para que a passagem pela PUC seja plena. Essa é sem dúvida uma ótima estratégia para a sobrevivência acadêmica.
Além disso, buscar compreender a PUC-Rio em sua complexidade, enquanto uma universidade privada de qualidade e legitimidade acadêmica, é também entender que, em uma sociedade desigual, racista e machista, as raras oportunidades não devem ser subutilizadas. Pensando nisso, ser um filho “bastardo” da PUC não pode ser encarado como algo ruim, precisamos reivindicar um novo significado político: o “bastardo” é aquele que resiste às desigualdades. Por isso, é necessário que o nosso histórico pessoal seja uma mola que impulsione a nossa vida acadêmica. Sem perder de vista a nossa identidade, o lugar e a família que nos gestaram, viver a PUC-Rio é quase uma missão política e social, já que o processo pedagógico é uma via de mão dupla: quando nos transformamos, modificamos também tudo e todos à nossa volta. A nossa presença na PUC-Rio já é, por si só, um ato de resistência! Boa viagem acadêmica, política, econômica e social.