Rio de Janeiro, 3 de julho de 1937

Caro Corbusier,

Aproveitamos-nos da boa vontade do sr. Monteiro[1] para enviar-lhe, com toda a segurança, os desenhos executados depois de sua partida. Segundo o bilhete que acompanhava sua carta de outubro(!) compreendi que você não recebeu minha “carta-relatório” enviada por avião (35 rue de Sèvres, Paris) e onde o colocava a par dos acontecimentos.

Vou resumi-los rapidamente para você. Primeiramente a Cidade Universitária: a comissão de professores – encabeçada por Amaral e Campos – recusa, sem compreender nada, o seu belo projeto. Quanto a nós, tendo dois meses para apresentar uma nova solução, fizemos o melhor possível, ainda que nos adaptando às circunstâncias, pois era necessário encher o terreno de construções. Mas, mesmo desta vez, por unanimidade (e eles são 14 na comissão de professores), o projeto foi rejeitado. Parece que Campos quer ter toda a liberdade para fazer uma arquitetura só dele – eis tudo. E agora o prédio do Ministério, reconhecida a impossibilidade de construí-lo no magnífico terreno que você escolheu – pois seria necessário fazê-lo muito mais baixo e sem poder ampliá-lo no futuro, por conta do aeroporto; e reconhecido, por outro lado, que a “múmia” já estava bem morta – fizemos um novo projeto diretamente inspirado em seus estudos. Oscar, que após sua partida tornou-se a estrela do grupo, é o principal responsável por ele e aguarda, emocionado sem dúvida – como todos nós, de resto – o ok de Jeová. Estamos enviando também o belo projeto que ele fez com o Reis para o Instituto Nacional de Puericultura: o que você acha dele?

Sua visita foi, portanto, muito útil para nós e esperamos todos que ela também lhe tenha servido em alguma coisa.

Capanema mostrou-nos, outro dia, as belas reproduções da enciclopédia, e envia-lhe agora os dez mil francos para impressão do seu livro.

Charles Offaire já se instalou aqui – inteligente, ativo e muito simpático, terá sucesso, sem dúvida. Para nós – esse “monte de brasileiros” – a simpatia ainda conta.

Aceite, querido Le Corbusier, com nossas melhores lembranças – nossa amizade,

Lucio Costa

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[1]Alberto Monteiro de Carvalho (1887-1969). Engenheiro e arquiteto. Amigo de Le Corbusier, responsável por viabilizar a sua vinda ao Brasil.

Agradecemos às organizadoras Claudia Pinheiro e Julieta Sobral pela liberação e escolha da carta a partir da publicação Lucio Costa Le Corbusier: Correspondência. Rio de Janeiro: Bem-te-vi, 2024.