Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1971
Terezinha,
Agradeço a sua bem-intencionada carta, mas gostaria que você compreendesse que a sua expressão – “Todos vão para lá, não interessa o que tenham feito ou como tenham vivido” – me magoou e feriu profundamente.
Quero que você saiba que nem ao menos tenho certeza se meu filho está morto, pois não me entregaram o corpo.
Do dia 12 a 18 de maio ele foi torturado, espancado e por fim arrastado por um jeep da Gloriosa Aeronáutica Brasileira do Galeão, porque se recusou a assinar confissão do que lhe era atribuído, e que logicamente ele nunca fizera.
Um dos seus professores esteve aqui e disse: “Stuart era tão humilde, delicado, bom e calado que ninguém poderia imaginar quanta cultura e sabedoria ele carregava dentro de si”. Ainda disse ele: “Estou vendo o Stuart até pedindo desculpas aos seus algozes por lhes dar este trabalho de espancá-lo, torturá-lo e arrastá-lo num jeep para arrancar confissões hipotéticas”.
Terezinha, enquanto houver pessoas como você e outras que acreditam que a nossa melhor juventude, que está sendo torturada e morta nos cárceres brasileiros, realmente comete crimes, tudo continuará a ruir ao nosso redor – conforme expressão sua.
Meu filho passou toda a sua existência estudando, estudando, estudando – só línguas falava oito, que eu tenha conhecimento; talvez outras mais pois ele não gostava de mostrar seus conhecimentos nem para as pessoas de casa.
Enquanto o Brasil silencia sobre o martírio deste jovem, este fato é noticiado em 8.000 (oito mil) jornais no mundo inteiro.
O futuro mostrará o Tiradentes da época dos computadores.
Zuzu Angel
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