Na esteira do lançamento do novo volume de correspondência de Mário de Andrade, editado pela Edusp, agora com Oswald de Andrade, conversamos com a professora Gênese Andrade, a organizadora do volume. Com bilhetes, cartões-postais de Oswald para Mário e outras fontes, ficamos conhecendo mais um pouco a cozinha do modernismo junto de um ensaio portentoso da organizadora que nos ajuda a entender a dinâmica dessa amizade definidora da cultura brasileira. O apetite de pesquisa sobre o modernismo não cessa e essa entrevista é parte da empreitada de compreender esse movimento cultural que ajudou a conformar o país que conhecemos.
1. Como você começou a se interessar pelo Modernismo brasileiro e, mais especificamente, pela relação entre Mário de Andrade e Oswald de Andrade?
Em 1994, ao iniciar as pesquisas para o volume da Coleção Archivos, de edições críticas de escritores da América Latina e do Caribe, tive acesso a manuscritos de Oswald e conheci seus filhos – Rudá e Marília de Andrade – e sua nora – Adelaide Guerrini, viúva de Nonê – que então eram guardiões de muitos materiais (manuscritos, cartas, publicações), e comecei a mergulhar no universo oswaldiano. Esse volume, com o título Obra incompleta, só foi publicado no final de 2021, pela Edusp, depois de várias idas e vindas com editoras e questões decorrentes dos acordos institucionais que envolviam a publicação.
Nesse longo processo, a parceria com Jorge Schwartz – que foi meu orientador no mestrado e no doutorado – teve vários desdobramentos. Fui assistente editorial da obra de Oswald publicada pela editora Globo de 2002 a 2013, 18 títulos no total, da qual ele foi o supervisor editorial. Atualmente, ele e eu somos os coordenadores editoriais da obra de Oswald publicada pela Companhia das Letras, desde 2016, que tem em preparação no momento o oitavo título.
Assim, mergulhei na obra oswaldiana, consultando manuscritos, primeiras edições, pesquisando a fortuna crítica, organizei volumes com materiais inéditos: Feira das sextas (Globo, 2004), Arte do centenário e outros escritos (Editora Unesp, 2022) e 1923: os modernistas brasileiros em Paris (Editora Unesp, no prelo). Tive oportunidade de fazer a curadoria de uma exposição (Pagu/ Oswald/ Segall, Museu Lasar Segall, 2009), escrever artigos sobre o tema, participar de bancas examinadoras em várias instituições e, passados quase 30 anos, continuo me encantando e me surpreendendo com Oswald, que é uma figura fascinante e deixou uma obra inesgotável.
A compreensão da obra do Oswald envolve o conhecimento da vida e da obra dos modernistas que o cercavam, especialmente os que foram mais próximos dele nos anos 1920, o período mais intenso do modernismo, como Mário de Andrade e Tarsila do Amaral. É também fundamental dominar a fortuna crítica sobre o movimento, as polêmicas, discussões e reavaliações que, no caso da Semana de 22, acontecem de forma intensa nas efemérides, a cada 10 anos. Sendo assim, em paralelo, me especializei também nesses temas.
2. O que vamos encontrar no novo volume da Coleção Correspondência de Mário de Andrade cujo destinatário agora é Oswald de Andrade?
Só temos um lado dessa correspondência, sendo Mário o destinatário. As cartas que Mário enviou a Oswald se perderam, pois este, ao contrário daquele, não guardava muita coisa. Mas se trata de um material riquíssimo, visualmente deslumbrante, devido aos papéis variados, os desenhos que Oswald fazia, os postais que ele enviava de lugares diversos. E, para preencher as lacunas do diálogo, há muitas notas, e são bastante citados outros documentos da correspondência deles com diversos interlocutores.
A escrita de Oswald nas cartas é meio cifrada, então é preciso conhecer bem o contexto entre 1919 e 1928, período que a correspondência abrange, durante o qual Oswald estava quase sempre viajando. A maioria das cartas é enviada em 1923, ano que Oswald passou na Europa, na companhia de Tarsila, a maior parte do tempo em Paris, e ele faz questão de contar sobre suas atividades lá e suas amizades, divulgando sua própria obra e a dos demais modernistas.
As cartas, além de transcritas, são reproduzidas em fac-símile. É muito fascinante ver os tipos e formatos de papel que Oswald usava, os desenhos que fazia, os autógrafos que enviou, sendo o suporte tão rico quanto o conteúdo.
O suporte é muito significativo, na medida em que acrescenta dados sobre o momento da escrita: Oswald escreve do porto, a bordo, no hotel, no restaurante… Assim transmite muitas sensações da viagem, e ainda faz desenhos, inverte o sentido do papel, altera a caligrafia… Há também a beleza dos postais, algo hoje substituído por fotos feitas no celular, e principalmente selfies, tendo então se tornado relíquias. Elas nunca haviam sido reproduzidas, apenas citadas. Só os postais já haviam sido publicados, na edição de Postais a Mário de Andrade, organizada por Marcos Antonio de Moraes, de 1993, que está esgotada.
O livro traz também um caderno de imagens, com fotos, dedicatórias e retratos pintados de Mário e Oswald. As dedicatórias que eles destinaram um ao outro nos respectivos livros são documentos importantes, grande prova de afeto e amizade. As fotos, que flagram a presença de Mário na fazenda Santa Teresa do Alto, juntamente com Oswald, Tarsila, Manuel Bandeira e outros, são preciosas, especialmente aquelas tiradas pelo próprio Mário de Andrade. Vários desses documentos foram raramente reproduzidos.
No dossiê, foram reunidos dois artigos de Mário sobre Oswald, dois artigos de Oswald sobre Mário – são trocas de olhares entre eles –, e um poema escrito a quatro mãos, “Homenagem aos homens que agem”, publicado na revista Verde, em 1927. Consta aí que pertence ao livro Oswaldário dos Andrades, sobre o qual não há mais informações. Talvez tenha sido escrito durante algum encontro deles na fazenda Santa Teresa do Alto, onde eles estiveram várias vezes nesse ano. É a única produção a quatro mãos dos Andrades que se conhece. Seria incrível se o livro existisse, mas não há pistas se chegaram a escrever mais alguma coisa juntos para esse projeto. Pode ter sido uma brincadeira, um fato isolado, mas todos ficam muito curiosos para saber mais sobre isso.
O livro inclui ainda o ensaio “Andrade versus Andrade”, um estudo que fiz das cartas a partir de várias perspectivas e também uma reflexão sobre como a amizade deles se construiu e se destruiu.
3. Como foi a pesquisa para a publicação do volume?
Comecei essa pesquisa em 2006, quando a revista Teresa, de literatura brasileira da USP, preparava um número dedicado à epistolografia, coordenado por Marcos Antonio de Moraes, lançado em 2008. Eu ainda não conhecia as cartas de Oswald, mas havia lido a Correspondência Mário de Andrade & Tarsila do Amaral, de 2001, na qual Aracy Amaral, a organizadora, menciona que a quantidade de cartas de Oswald a Mário era maior do que a correspondência de Tarsila a Mário. Então fui pesquisar no Arquivo Mário de Andrade, no IEB-USP, e fiquei encantada com o material. Fiz pesquisas também no Fundo Oswald de Andrade, do Cedae, na Unicamp; na Academia Paulista de Letras, que guarda a correspondência entre Yan de Almeida Prado e Sérgio Milliet; li toda a correspondência do Mário de Andrade publicada, as biografias de ambos, enfim, uma bibliografia extensa. Várias outras pesquisas e reflexões que fiz sobre a obra de Oswald e o modernismo também me levaram a materiais complementares e contribuíram para a compreensão do conjunto.
4. Como essa nova publicação poderá auxiliar pesquisadores para novas interpretações do movimento modernista?
Sendo Oswald e Mário figuras centrais na Semana de 22 e autores de obras fundamentais do modernismo, além de personalidades muito marcantes da cultura brasileira no século XX, a relação entre eles desperta muita curiosidade e interesse.
O livro traz dados importantes sobre a relação de Oswald e outros modernistas brasileiros com os vanguardistas europeus, principalmente em 1923. Tem informações sobre a convivência entre os artistas brasileiros nos anos 1920. Oswald não só comenta sobre eles, mas também há cartas assinadas conjuntamente por alguns deles, como Sérgio Milliet e Yan de Almeida Prado. Tarsila é sempre mencionada. Ele trata ainda do processo de criação de Serafim Ponte Grande, que só será publicado em 1933, inclui trechos escritos em 1926, durante a viagem ao Oriente. Faz a apreciação no calor da hora do que está acontecendo na cena artística parisiense, o que ele vai detalhar em artigos publicados em 1923 e 1924, no Correio Paulistano e no Correio da Manhã, que enviava durante a viagem, quase todos inéditos em livro, e que serão publicados agora pela Editora Unesp, no livro que organizei, mencionado acima.
Na correspondência Mário & Tarsila dos anos 1920, são abordadas questões relativas a Oswald também. Sendo assim, os dois volumes se complementam.
5. Qual é o papel da epistolografia para compreender a criação de uma sociabilidade modernista?
As cartas são escritos do âmbito privado, nas quais há comentários, informações, reflexões que às vezes os remetentes não pretendem que se tornem públicos. Nesse sentido, são documentos importantes por trazerem confissões e dados que não estão nos textos públicos. Ao mesmo tempo, criam certos dilemas para os pesquisadores sérios, pois a revelação da intimidade, que hoje está banalizada pelas redes sociais, é algo bastante complicado.
Sendo assim, o acesso à correspondência de escritores e artistas, o estudo dela e a relação que se estabelece entre esses documentos e os escritos públicos, ou a vida pública, é algo muito instigante, complexo e exige reflexão e maturidade ao atribuir sentido aos fatos da vida pública e privada do “objeto de estudo”, digamos. É muito importante cruzar informações, contextualizar e entender as relações entre os correspondentes ao estudar esses documentos. Não há dúvida de que a compreensão da sociabilidade modernista passa pela epistolografia, em um momento em que carta era o principal meio de comunicação entre as pessoas Havia muita vontade de compartilhar fatos e descobertas durante as viagens e, em alguns casos, havia troca de impressões e reflexões sobre leituras, fatos políticos, questões pessoais, de uma forma muito sincera, intensa, quase como uma conversa olhos nos olhos, embora fosse intermediada pela letra, e houvesse uma distância temporal entre a emissão e a recepção.
Mário de Andrade é um dos maiores escritores de cartas de que se tem notícia. E a correspondência dele traça um grande mapa do universo cultural dos anos 1910 aos anos 1940. A leitura do conjunto revela como ele se sentia mais ou menos à vontade com seus interlocutores. Às vezes, era mais formal, outras vezes, mais eufórico e descontraído. Sentia-se mais à vontade com alguns, como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Henriqueta Lisboa, por exemplo, para tratar de questões pessoais.
Fazia apreciações sobre as obras literárias e artísticas de vários de seus contemporâneos, às vezes a pedido deles mesmos, outras vezes de forma espontânea, ou ainda por estar se dedicando aos materiais para seus estudos. A honestidade intelectual e a crítica sincera impressionam muito.
6. Foi possível encontrar nas cartas algumas pistas sobre como se deu e como se encerrou essa amizade fundamental para a cultura brasileira de Mário e Oswald?
O rompimento entre eles, ocorrido em 1929, não foi totalmente esclarecido até hoje, e as cartas reunidas no livro ajudam a entender a amizade, mas não o rompimento, pois a última é de maio de 1928, portanto mais de um ano antes do fim da amizade.
Nessa correspondência, Oswald revela-se afetuoso, irônico, ferino, piadista, como se sabe que ele sempre foi na relação com Mário e com outros. Inclusive, Mário comenta sobre a personalidade de Oswald em várias cartas com outros interlocutores.
É muito comovente ver que um acompanhava a obra do outro, mesmo depois que a amizade terminou. E eles avaliavam a obra um do outro com muita seriedade e sinceridade, fazendo críticas entusiasmadas, mas também reprovando aquilo com que não concordavam.
Eu me detenho na amizade, pautada pela admiração mútua, e construo uma hipótese sobre o rompimento, provavelmente motivado por algum comentário intempestivo e inconsequente do Oswald, que ele fez várias vezes e Mário relevou, mas dessa vez, por alguma razão, não perdoou.
7. As viagens ocuparam boa parte da trajetória de ambos. Seja Mário indo para a Amazônia e o Nordeste ou Oswald indo para a Europa ou juntos indo a Minas Gerais. Qual a importância das viagens na conformação dessa amizade e do movimento modernista?
O livro se inicia com um roteiro das viagens de Oswald no período em que as cartas são enviadas, já que quase todas são de quando ele estava viajando, entre 1922 e 1928.
A viagem é fundamental para o movimento modernista. Podemos considerar muitas delas como viagens de formação. Vários artistas do modernismo brasileiro foram estudar na Europa, com bolsa do Pensionato Artístico, ou às próprias custas. Além de Oswald e Tarsila, podemos citar Rego Monteiro, Brecheret, Anita Malfatti, Souza Lima, Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Sérgio Milliet e Yan de Almeida Prado.
No caso de Oswald, o contato com as vanguardas europeias, principalmente em 1923, e nas viagens subsequentes nos anos 1920, é fundamental para ampliar seu repertório, consolidar seu projeto literário e amadurecer o propósito de divulgação da arte brasileira na Europa.
Tanto para Oswald como para Tarsila, as viagens a Minas Gerais durante a Semana Santa em 1924, assim como ao Rio de Janeiro no Carnaval no mesmo ano são fundamentais para a concepção do “Manifesto da Poesia Pau Brasil” (1924), dos poemas do livro Pau Brasil (1925) e da pintura Pau Brasil de Tarsila (1924 e 1925). A presença de Blaise Cendrars nessas viagens, de quem eles se aproximaram em Paris em 1923, é que proporciona a guinada, no sentido de ver a cultura nacional de outra maneira e fundir a estética da vanguarda europeia aos temas brasileiros, resultando em obras originais, inovadoras e decisivas para a consolidação do modernismo brasileiro. Toda a reflexão sobre as dualidades nacional x estrangeiro, local x cosmopolita, tradição x modernidade, urbano x rural, erudito x popular está relacionada às descobertas e reflexões proporcionadas por essas viagens.
No caso de Mário de Andrade, que nunca foi à Europa, a reflexão que ele faz sobre o Brasil se amplia e se renova a partir das viagens de 1924 a Minas Gerais, juntamente com o casal Tarsiwald, Cendrars, Dona Olívia Penteado e outros, e as viagens ao Norte e Nordeste em 1927 e 1929. Inclusive, Mário já havia visitado as cidades históricas em 1919, e já estava fascinado com Aleijadinho, a cuja obra irá se dedicar mais adiante. Ao passar por Belo Horizonte em 1924, ele conhece Drummond, e se inicia a longa amizade entre eles, documentada em um extenso conjunto de cartas. Mário passou o Carnaval de 1923 no Rio, e escreveu o poema “Carnaval carioca”, que é um destaque em sua obra. Suas viagens ao Norte e Nordeste são fundamentais para suas pesquisas sobre folclore e música, sua amizade com Câmara Cascudo se intensifica, e tudo o que ele registra nas crônicas e fotos do Turista aprendiz, e também nas cartas do período, mostram o quanto elas foram importantes para suas reflexões sobre o Brasil, que transparecem não só em seus escritos, mas também em sua atuação no Departamento de Cultura. Elas alteram sua sensibilidade, digamos.
Pode-se ler a obra de Mário e de Oswald da perspectiva da viagem, seja como tema, que aparece explicitamente em Memórias sentimentais de João Miramar, Serafim Ponte Grande e Macunaíma, seja também como estrutura, no caso de Pau Brasil. E temos também as crônicas, que tanto Oswald como Mário publicaram durante e depois das viagens, em que as experiências vividas são intensamente abordadas.
8. Como a senhora encarou as discussões suscitadas pelo centenário da Semana de Arte Moderna de 1922?
Acompanhei com muito entusiasmo e interesse o fato de que as discussões ocorreram amplamente, praticamente no Brasil todo e no exterior.
Houve tentativas de distorcer o evento e sua repercussão, minimizar sua importância, mas todos os eventos e a imensa produção bibliográfica são a melhor prova de que a Semana foi relevante em seu momento e para a consolidação do modernismo.
Refletir sobre o evento e sobre o modernismo à luz das pautas do século XXI, em torno de questões de representatividade, raça, gênero, questões sociais, foi muito instigante para pensar questões estéticas e sociais, e revisitar os artistas e as obras.
Além disso, o mercado editorial se animou e houve oportunidade de publicar muito material até então inédito em livro. Assim como houve também ótimas exposições em torno do Modernismo, a partir de várias perspectivas, ampliando a discussão para a produção artística anterior e para a contemporânea.
Nas comemorações em torno da Semana que acontecem a cada dez anos com mais ênfase, 1972, 1992, 2002, 2012, 2022, acho que a última foi aquela em que houve mais críticas, algumas rasas, mas muitas reflexões e publicações consistentes, com o objetivo de festejar sem deixar de questionar.
Organizei o livro Modernismos 1922-2022 (Companhia das Letras, 2022) com o objetivo de revisitar as obras literárias e artísticas e a bibliografia, preencher lacunas das reflexões sobre o tema e atualizar a discussão. Os especialistas convidados deram conta de um amplo espectro de questões, de forma muito consistente, e a recepção foi e tem sido muito positiva.
É muito importante ver como a obra dos protagonistas da Semana se desenvolveu, como eles dialogaram com seus antecessores, como a recepção da obra deles se modificou ao longo do tempo. Inclusive, pensar o modernismo dos anos 1920 e a produção posterior, ou sua circulação no Brasil e fora do Brasil, falar em “modernismos”, ampliando a discussão a partir de um olhar retrospectivo e prospectivo, considerando sua pluralidade, é um dos maiores legados do evento.
9. Por que o Mário de Andrade remetente ainda fascina e é objeto de tanta pesquisa?
Não só Mário de Andrade, mas outros modernistas também, como Oswald e Tarsila, continuam fascinando e motivando reflexões e estudos. Os três têm uma obra numerosa, esteticamente relevante e plural, que resiste ao tempo e ainda suscita novas questões e estudos, inclusive à luz das reivindicações contemporâneas, relacionadas à representatividade, a questões sociais, de gênero e raça. Cada um à sua maneira, em termos de comportamento, esteve à frente de seu tempo e extrapolou padrões de comportamento. Os três eram intelectualmente brilhantes, plurais e tiveram uma obra extensa.
Mário, mesmo tendo morrido jovem, em torno de 50 anos, deixou uma obra enorme e diversificada, tanto em termos de gêneros literários – poesia, romance, conto, ensaio – como quanto a áreas de atuação e interesse – literatura, música, cultura, folclore, gramática, artes visuais – e ainda deixou um patrimônio enorme e organizado: documentos, correspondência, livros, obras de arte, móveis etc. Tudo isso pode ainda ser analisado e estudado a partir de várias perspectivas, é inesgotável, e ainda há materiais inéditos.
São figuras ímpares, personalidades fortes, com atitudes e comportamento audaciosos, iniciativas ousadas, talento, e vida pessoal repleta de fatos marcantes. cujo impacto vai além do âmbito artístico, e por isso continuam fascinando. Como Machado de Assis e Lima Barreto no século XIX, que são constantemente revisitados, no Brasil e, no caso do primeiro, também no exterior.
Chama a atenção a quantidade de publicações e novas reflexões que surgiram em torno de 2022, indo inclusive além do âmbito editorial, como a exposição Mário de Andrade: duas vidas (Masp, 2024), os inéditos de Oswald (2022, 2023 e 2024). Haverá ainda eventos em torno deles na Europa neste ano: em setembro, uma exposição da obra de Tarsila no Museu de Luxemburgo, em Paris, que depois vai para o Guggenheim de Bilbao; uma exposição de modernismo no Zentrum Paul Klee, na Suíça, que depois vai para a National Gallery, em Londres. E há outros eventos e publicações em torno de Mário e Oswald em preparação, com textos e reflexões inéditas, sobre as quais não posso dar detalhes ainda.