Não é a qualquer momento que duas leituras ecoam de forma tão emocionante como esta que fazem do soneto 28, de Elizabeth Browning, o poeta Eucanaã Ferraz e a fotógrafa Maureen Bisilliat. O encontro resulta de um desses acasos que acontecem no IMS – se para Maureen houvesse acasos: ela prefere acreditar em sincronicidade.
Eu quis que a fotógrafa inglesa, naturalizada brasileira, lesse para mim o soneto 28, o que ela fez imediatamente, com o seu costumeiro entusiasmo. Até então meu desejo era apenas ouvir os versos ditos por uma falante nativa, mas, depois de escutá-la, abandonei a ideia original e ousei pedir-lhe que os gravasse para o Correio IMS. Seria lindo integrá-los à irretocável leitura de Eucanaã Ferraz. O resultado mostra que valeu a pena – e como!
Não fosse Maureen naturalmente adepta da ideia de que forças superiores se revelam no universo incompreensível, talvez se convencesse disso ao saber da história de vida da poetisa inglesa, autora do soneto.
Elizabeth Browning foi uma “tuberculosa alinhadíssima”, definiu-a Manuel Bandeira. Nasceu em 1805 e viveu entre onze irmãos e um pai tirânico que a manteve reclusa num quarto de fundos da casa depois que, aos 15 anos, ela sofreu um acidente ao selar seu poney e ficou paralítica, além de doente dos pulmões.
Leu muito e escreveu versos. Os livros que publicou, entre os quais Cry of the Children, longo poema de fatura social em que protesta contra o trabalho de crianças nas fábricas, chegaram ao também poeta Robert Browning que, com ela, trocou correspondência ao longo de anos. Chegou o dia em que ele teve permissão para visitá-la na sua casa-prisão de Wimpole Street, 50, em Londres, quando ela já completara 40 anos. Visitá-la foi pouco. Em 1846, Robert Browning, que já a amava, como revelariam as cartas publicadas em Love Letters, sequestrou-a e levou-a para a Itália, onde, negando a exclusividade própria dos contos de fadas, foram felizes para sempre. Um sempre que durou dezesseis anos e que findaram quando ela, sorrindo, feliz, como passara a viver no exílio amoroso, encostou a face na do marido e expirou.
Garante Manuel Bandeira que, do amor, ela viveu o “o mais puro, o mais completo que já foi dado a nenhuma mulher experimentar da parte de um homem”. Muito desse amor Elizabeth Browning expressou nos 44 magníficos Sonnets from the Portuguese, de onde selecionei este, cuja leitura pode ser ouvida aqui: