Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1827
Minha querida filha e amiga do coração,
Fala-se pela cidade que eu vou à tua casa, assim o foram dizer ao barão de Mareschal,[1] que mo deu a entender e eu fiz um desentendido, falando-lhe muito no casamento, em meu sogro etc. Como poderão por eu não ir hoje à ópera querer tirar que é para ir lá à tua casa, eu vou ao teatro e depois irei à tua casa ter o gosto de estar contigo. Ora, se tu fores ao teatro, manda-me dizer, porque eu então não vou. Se nós até aqui tínhamos cautela, daqui por diante, por mim e muito mais por ti, a devemos ter. À noite combinaremos nosso modo de viver pelo qual gozemos (durante este espaço antes do casamento) um do outro sem que tampouco andemos nas viperinas línguas dos malditos faladores que se querem divertir conosco. Acredita, filha, no que te digo: por ti vou ao fundo do mar, se tu quiseres; nisto, digo, para todos os modos buscarei sempre ver-te, mas sem que ninguém o pense e disfarçando nós sempre.
Sou teu filho, amigo e amante etc.,
O imperador
Cartas de Pedro I à marquesa de Santos. Notas de Alberto Rangel. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 297.
[1] N.S.: Diplomata austríaco, Philipp von Wenzel, o barão de Mareschal (1785-1851), ficou encarregado dos negócios da Áustria no Brasil com a partida do barão Sturmer, que o antecedeu no cargo.