[26 de outubro de 1976]

Aos jornalistas

Nos últimos dias foram presos em São Paulo e no resto do país dezenas de pessoas. As prisões atingiram indiscriminadamente estudantes, profissionais liberais, professores, sindicalistas, operários e membros do partido reconhecido pelo Governo, o MDB. Entre eles, 10 jornalistas.

Essas prisões tiveram todas as mesmas características: o sequestro, a incomunicabilidade. As pessoas foram detidas em suas casas e levadas para local ignorado, sem possibilidade de defesa.

Isto acontece porque em nosso país não temos as mínimas liberdades. E os jornalistas são os primeiros a saberem disto: a censura à imprensa é um fato normal em seu dia a dia. Ao mesmo tempo, o arrocho salarial e a proibição do direito de greve amordaçam os operários; o 477[1] e demais decretos repressivos impedem a livre manifestação dos estudantes; a inexistência do habeas corpus e outras garantias jurídicas impossibilitam qualquer defesa dos supostos acusados.

Agora, ontem, o jornalista Vladimir Herzog morreu na prisão.

O fato que se coloca, então, com destaque, diz respeito à segurança dos outros colegas presos, que sofrem maus tratos e que podem ter o mesmo fim.

Nós, alunos da Universidade de São Paulo, temos outros colegas e professores presos. Os jornalistas têm vários membros da categoria presos.

É necessário, imprescindível, que lutemos para garantir a integridade física desses colegas. É necessário que os jornalistas se utilizem do meio seguro de que dispõem as mãos para a mobilização da categoria em defesa dos colegas presos: exigir de sua entidade representativa, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, assembleias gerais para que se possa, em conjunto e unitariamente, adotar medidas.

Nós, estudantes da Universidade de São Paulo, conclamamos os jornalistas a que façam isso.

Em nosso campo, procuramos mobilizar todos os estudantes da Universidade pela libertação dos nossos colegas presos. As manifestações comuns são uma forma de ampliar – nossa força, de efetivamente defender os presos políticos e de – o que é demasiadamente importante nesse momento – divulgar o máximo possível à população a situação que nos foi imposta e que não diz respeito apenas a estudantes e jornalistas, mas a todos os setores da sociedade.

Portanto, conclamamos também os jornalistas como sua entidade representativa, o Sindicato, a se mobilizarem e a participarem de nossas manifestações e assembleias. Amanhã, terça-feira, dia 28 de outubro, há uma concentração em frente à Reitoria da Universidade de São Paulo para que, adotemos em conjunto, outras medidas efetivas. A Concentração se realizará às 10 horas.

Não existe outro meio de defesa. Na mobilização consiste a única forma possível de evitar que algo de mais grave ocorra aos colegas presos.

COMISSÃO UNIVERSITÁRIA

[1] N.S.: O decreto-lei nº 477, de 26 de fevereiro de 1969, previa a punição de professores, alunos e funcionários de universidades considerados culpados de subversão ao regime militar. A norma, baixada por Artur da Costa e Silva, vigorou até 1979, quando foi revogada pela lei da anistia.

Acervo Lygia Fagundes Telles/IMS