[Ipê, Brasília],[1] 6 de dezembro de 1960
Papai,
Como você me pediu para lhe escrever escrevo-lhe agora.
Tudo vai bem aqui, espero que aí esteja também.
Você me pediu para contar a você o que se passa aqui pela carta, pois aí vai o diário:
Dia 1
No dia em que cheguei aqui logo comecei a atirar de atiradeira numa caixa de marimbondos.
E assim nesse negócio acabou o dia.
Dia 2
Esqueci-me o que se passou.
Dia 3
Nesse dia lembrei-me muito da Cristiana,[2] que fazia anos, e peço a você para dar um abraço nela por mim, fale com ela que está ficando uma mocinha.
Mas voltamos ao diário:
De manhã a ema me deu uma bicada e assim se passou a manhã.
À tarde fui com Ricardo e o pai dele também o Bruno ao Torto[3] e eu e Bruno[4] chegamos às 11 horas da noite no Ipê: Ricardo e tio Cláudio dormiram lá.
Dia 4
Fui à missa com a vovó e depois ao curral falar com o seu Pimenta para selar os cavalos para amanhã às 8 horas. Ricardo chegou e esqueci-me o que se passou à tarde.
Dia 5
Acordamos e fomos ao curral para montar os cavalos o cavalo em que montamos estava ferido.
Depois almoçamos e começamos a brincar de flechas.
Hoje
Bruno está há cinco dias sem tomar banho, vovó disse que se ele não tomar hoje não sabe o que fará com ele.
Diga isso à mamãe não se esqueça.
Lembrança a ela a você e a Cristiana
do André
Hi!! Esqueci-me de dizer-lhe que demorei a escrever porque não achei papel e caneta acabo de escrever porque Melia[5] está saindo.
Arquivo Otto Lara Resende/ Acervo IMS
[1] N.S.: Ipê é um sítio de propriedade do governo.
[2] N.S.: Cristiana Lara Resende, terceira dos quatro filhos de Otto Lara Resende, nasceu no dia 3 de dezembro de 1955.
[3] N.S.: Granja do Torto, residência presidencial.
[4] N.S.: Bruno Lara Resende (1952-), segundo filho de Otto, advogado e diretor de teatro.
[5] N.S.: Maria Amélia, Melinha, tia de André, irmã caçula de sua mãe, Helena Pinheiro de Lara Resende.