“Samba epistolar” foi como Noel Rosa classificou esta sua composição. Traumatizado na infância por ver o pai endividado, sendo cobrado ou batendo à porta dos agiotas da época, neste samba de breque ele relembra o assunto por meio de carta a um amigo cobrando uma dívida antiga. Noel gravou-o duas vezes, ambas em 1931: com o Bando de Tangarás e com a Orquestra Copacabana.
Rio de Janeiro, 7 de setembro de 1931
Estimo que este mal traçado samba
Em estilo rude
Na intimidade
Vá te encontrar gozando saúde
Na mais completa felicidade
(Junto dos teus, confio em Deus)
Em vão te procurei,
Notícias tuas não encontrei,
Eu hoje sinto saudades
Daqueles dez mil réis que eu te emprestei
Beijinhos no cachorrinho,
Muitos abraços no passarinho,
Um chute na empregada
Porque já se acabou o meu carinho
A vida cá em casa está horrível
Ando empenhado nas mãos de um “judeu”
O meu coração vive amargurado
Pois minha sogra ainda não morreu
(Tomou veneno e quem pagou fui eu)
Sem mais, para acabar,
Um grande abraço queira aceitar
De alguém que está com fome
Atrás de algum convite pra jantar
Espero que notes bem:
Estou agora sem um vintém
Podendo, manda-me algum
Rio, 7 de setembro de 31
(Responde que eu pago o selo…)