15 de setembro de 1975

Prezada Linda,
espero que você hoje já tenha recebido uma boa quantidade de material através da nossa amiga Marina. Por favor, leia e me informe sobre a sua possível utilidade; procure me informar também sobre outro material específico que possa ser útil. Eu continuarei tratando de conseguir tudo que for possível.

Em relação à sua pergunta, ou melhor, ao convite para participar como testemunha do Tribunal Russell, é evidente que aceito. Creio que é um dever de todos nós brasileiros que estamos no Exterior denunciar sempre que possível todos os crimes da ditadura no poder. Aceito com muita satisfação, com muita alegria.

Só tenho o pequeno problema de não ter passaporte, no momento; mas isso não será nenhum obstáculo, como você mesma disse. Mas quero pedir um favor, se for possível: poderia o Tribunal influir para que eu obtivesse um passaporte português? Eu sou filho de pai e mãe portugueses. E, segundo a lei portuguesa (e o mesmo ocorre com a maioria dos países europeus, ao contrário dos americanos), filho de português é considerado também como sendo portugues. Portanto, eu tenho o direito de ser considerado português e, portanto, direito ao passaporte. Mas, infelizmente, isso não pode ser resolvido aqui, no Consulado de Portugal; terá que ser resolvido em Lisboa, no Ministério. Pergunto se os bons contatos e boas amizades do TBR poderiam influir para que o Ministério autorizasse o consulado aqui a me dar o tão necessário passaporte. Seria maravilhoso se isso fosse possível. Eu vivo viajando por toda a América Latina, dando aulas, cursos e “talleres” de teatro popular. E já faz mais de três meses que pedi o passaporte ao consulado brasileiro e até agora eles não me deram. A perspectiva de ficar amarrado aqui à Argentina é fogo! Por favor, veja isso para mim.

Esta semana mesmo redigirei o resumo da minha possível participação. Em poucos dias mais você receberá uma cópia.

Um grande abraço e não deixe de escrever.

Augusto Boal

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A carta apresentada faz parte da correspondencia entre Linda Bimbi e Augusto Boal e está sob a guarda da Fondazione Basso. Agradecemos entusiasticamente a colaboração do Instituto Augusto Boal, na figura da Cecília Boal.