28 de fevereiro de 1963

Meu abraço no seu aniversário

José Olympio

Lisboa, 28 de fevereiro de 1969

Paulusca,
Seu aniversário foi marcado aqui em Lisboa com um pavoroso terremoto, que, por ora, ainda não destruiu a cidade. No próximo ano, deixe por menos… Passamos uns momentos de pânico, numa experiência que não deixa saudades. Mas, entre mortos e feridos, todos nos salvamos.

Como estamos ficando velhos, hein, meu irmão? Mas, olhe, andei lendo uns troços aí (desses tapeativos). Gerontologia, Geriatria etc. e tal – e me restituí o meu futuro. O “poder maduro” é fecundidíssimo intelectualmente, ao menos intelectualmente! Poder jovem é blá-blá-blá, já o tivemos e o sabemos, que língua a nossa!

Viu o Hélio [Pellegrino]? Escrevi-lhe, via Fernando [Sabino]. Terá recebido?

Alguém aqui me falou numa crônica sua que relembra os tempos belorizontais, você aos sábados pagando os operários, nós todos. Não vi, ficaram de me dar. O [Adolfo] Bloch parou de me remeter Manchete. Deve ser medida de economia. Ou então é o Ato.

Lembranças à Joaninha, à Gabriela e ao Daniel, cujo braço, espero, estará bom.

Helena(s) vão bem. A Heleninha gostou muito do terremoto, a fuga de madrugada pela cidade etc. Uma farra!

Ciao, parabéns, felicidade, tudo de bom e o velhíssimo, fiel e muito amigo abraço do
Otto

28 de fevereiro de 1980
O carinho imperturbável do Hélio.

Rio, 27 de fevereiro de 1988

Paulo,
Na véspera do dia 28, neste ano bissexto, quando você, sempre pioneiro, vai entrar num par de seis (66), nada melhor do que uma hora de nostalgia.

Se você nunca viu, vai gostar de ver o jornalzinho anexo, recheado de nomes e feitos que nos transportam aos anos 30, São João del-Rei. Por falar nisso, este ano completamos 50 anos de formatura no ginásio! Meio século! Quem diria? Mais um pouco e vamos celebrar o centenário…

Para não deixar de fora uma nota fúnebre, não sei se você sabe que morreu o Emílio Mansur. Médico, aposentou-se e voltou para São João, onde a família vive. Teve problema cardíaco e morreu na flor da idade (a nossa, claro). Foi meu colega desde o ano primário. Foi o segundo a morrer. O primeiro foi o Adenorzinho Simões Coelho, por sinal cunhado do Emílio (casado com uma irmã dele). O Adenorzinho era o meu ponto de conexão com São João. Morreu de câncer. Sou amigo de uma filha dele, moça inteligente e bonita, mas que tem o defeito de, casada com um americano, morar nos USA. A outra mora no Canadá. Há uma terceira que, se está em São João, deve estar à espera de um marido australiano (por aí). Gente andeja.

Vale o pretexto para lhe desejar felicidade, uma cota razoável, com a paz que merece. Se celebrar a data, chame a gente.

Beijos para a Joan e todo o clã.

O melhor abraço do
Otto