25 de janeiro de 1977

Belo Horizonte, 25 de janeiro de 1977

Excelentíssimo Senhor Ministro Armando Falcão

Ministro da Justiça

Senhor Ministro,

Nós, escritores, jornalistas, professores, cineastas, músicos, artistas brasileiros, abaixo assinados, tendo em vista a série de atos praticados sob inspiração e responsabilidade desse Ministério, que implicam em restrições à liberdade de expressão e constrangimento da capacidade criadora, denunciamos, através deste documento, uma situação que nos é imposta, e com a qual nos defrontamos frequentemente.

Sob a alegação de que contém ‘matéria contrária à moral e aos bons costumes’, ou com outros pretextos, ou sem justificativa alguma, a censura vem retirando de circulação, em escala crescente, um conjunto de obras literárias, teatrais, musicais e cinematográficas. Na sequência de inexplicáveis arbítrios, recaiu a censura, recentemente, sobre os livros Aracelli meu amor, de José Louzeiro; Zero, de Ignacio de Loyola Brandão; e Feliz ano-novo, de Rubem Fonseca, trazendo mais uma vez revolta e perplexidade aos que se dedicam à atividade intelectual no Brasil.

Nós, para quem a liberdade de expressão é essencial, não podemos ser continuadamente silenciados. O nosso amordaçamento há de equivaler ao silêncio do próprio Brasil e à sua inequívoca conversão em país que muito pouco terá a dizer brevemente.

Se vem o governo conclamado o povo brasileiro a participar da grandeza da nação, declaramos que esta mesma grandeza também se manifesta através de sua independência cultural.

Recusamo-nos a abdicar de nossa identidade nacional e da nossa própria memória; repelimos a convivência com a passividade, a apatia, o falso registro da nossa realidade. É necessária a revogação de atos com efeitos de caráter punitivo da atividade intelectual.

Dirigimo-nos a vossa Excelência para defender os livros censurados e, principalmente, para questionar um instrumento arbitrário, repudiado pela inteligência brasileira.

Os destinos de um país não são apenas determinados pelos seus governantes. É preciso consultar constantemente o povo, permitir que, em seu nome, seus artistas possam se expressar.

Assim senão, Senhor Ministro, nós, escritores, jornalistas, professores, cineastas, músicos e artistas brasileiros, abaixo assinados, aguardamos a imediata revogação dos atos que impedem a circulação de livros, a apresentação de peças e filmes, a difusão de músicas e reprimem a liberdade de pensamento e de criação no país.

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Acervo Lygia Fagundes Telles/Instituto Moreira Salles