[Salvador], 11 de fevereiro de 2002

Gil querido!

Eu tô no avião e já morrendo de saudades! De você, do trio, de Salvador… de milhares e milhares de pessoas que fizeram amor comigo e com a gente ontem de uma maneira tão apaixonada e apaixonante! Dali nenhuma alma consegue sair de biscoito seco. Foi um orgasmo físico, mental e espiritual maravilhoso, do início ao fim. Nunca vou me esquecer do que vi e senti naquele palco tão singularmente grandioso, que mais parece um tapete mágico que faz voarem não apenas os que nele pisam e dançam mas também todos os que têm a sorte de olhar em sua direção.

O Washington Olivetto comentou que seu sequestro[1] e o desfecho feliz deste o fizeram ter renovada e fortalecida a sua dose particular de doçura no peito. Disse também que tem recebido desde a libertação um “carinho exagerado”, maior do que qualquer ser humano poderia merecer.

Eu também me sinto assim, ainda sob o efeito da overdose de alegria, tempestade de sorrisos de “viva a alegria, a pureza e a fantasia”, e acho que esse efeito na minha alma não vai morrer nem com a morte. Meu coração cresceu – de tesão! – E ganhou em volume, leveza e doçura, vítima voluntária desse sequestro que você e seus conterrâneos sabem fazer com uma simplicidade alucinante que dá a impressão de que isso tudo, tudo isso!, é apenas Carnaval!

Acervo do Instituto Antonio Carlos Jobim

[1] N.S.: Publicitário brasileiro que foi sequestrado em dezembro de 2001 e libertado em fevereiro de 2002.