Manaus, 20 de dezembro de 1861

Principio agora com uma série de cartas,[1] tão longa cada uma delas que o nosso correio, segundo desconfio, não tas deixará chegar às mãos senão por intermitências. Se te chegarem constantemente, é que ele o fará de velhaco, pelo gosto de me dar um desmentido perante o respei­tável, tão pouco respeitado. Ainda bem se o fizer.

As nossas coisas te interessam na dupla qualidade de brasileiro e investigador assíduo de tudo quanto respeita à nossa pátria. Aí vão, pois, umas “notícias curiosas e necessárias”, como as batizaria o padre Simão de Vasconcelos: coisas que a uma te mortifiquem e consolem, como a lança de Abraão, que ao mesmo tempo levava à boca o mel e o ferro — receita a que teu colega Willis deu modernamente a designação de xarope cholybeado. Vende-se na botica, e tanto basta para ser abominável. Todavia, apesar destas reminiscências bíblico-farmacêuticas, vai isto escrito ao que a pena dá, sem veleidade científica, e sem pretensões au grand jour de la publicité.[2]

O Amazonas!

Ao pronunciar esta palavra todo o coração brasileiro estremece. Os que o têm visto sabem que a seu respeito se tem escrito mais ou menos do que a verdade; os que o não viram ainda conservam e guardam lá em um dos escaninhos d’alma o desejo de o avistar ainda algum dia. Pois, no meio de tudo, crê que o Amazonas nada mais é do que um rio. Vê-se e admira-se, mas é só com o auxílio da reflexão que ele se torna assombroso. Navega-se por um imenso lençol d’água, onde o vento levanta tempestades perigosas — onde a onça e a cobra se afogam por não poderem cortar a corrente, e como que o espírito se satisfaz pensando ter já contemplado o Amazonas! —, mas o que se vê de um lado e de outro são ilhas — e além destas ilhas, outros canais tão volumosos como estes, e além destes, novas ilhas. A alma então se abisma, não podendo fazer uma ideia perfeita do que é esta imensidade.

Supões tu, pois, um imenso arquipélago, porque de cada um dos seus grandes confluentes podes dizer que tem ainda para mais de mil ilhas e que nele despejam alguns milhões de braças cúbicas d’água por hora! Terra firme chama-se somente a que não é alagadiça: as margens chamam-se praias, as águas elevam-se em ondas e o vento conhece-se no seu elemento. Os termos mesmos da navegação de longo curso, quero dizer — do alto-mar, não se estranham, antes parecem aqui necessários.

Queres ouvir?

Um dia, em viagem do Pará para o rio Negro, navegávamos com mar um pouco picado[3] no magnífico vapor Manaus da companhia do Alto Amazonas. Seriam duas horas da tarde, e estávamos todos sobre a tolda, quando de repente brada uma voz não sei donde: — “Homem no mar!”. Inquietos e sobressaltados, corremos todos à amurada, tripulação e passageiros, e viu-se uma cabeça de preto, que fugia, rápida como uma seta, pela popa do barco fora.

Ver naquele oceano uma pobre criatura lutar com o terrível elemento — o perigo em que estava, a incerteza de salvação, a impressão daquele espetáculo assustador —, tudo estava de acordo com o grito de “homem no mar”; porque no mar, onde quer que fosse, não seria maior o perigo. Mas o que ali não se veria era que, logo atrás, uma cobra imensa arrastada pela corrente lutava também com as ondas, e fatigava-se com esforços inúteis. O vapor, que já então recuava, deu-lhes felizmente outra direção, de modo que os dois companheiros de infortúnio ficaram longe um do outro. O coitado do preto, no entanto, gritava como um possesso e, quase a afogar-se, ainda cometia barbarismos sem nenhum temor de Deus. Este, porém, foi servido que ele não morresse duas vezes afoga­do, pois iria com alguns erros de gramática atravessados na garganta! “Mi acudi, gentis!”

Este espetáculo acrescentou certas ideias de alta consideração e profundo respeito, como se diz na Secretaria de Estado dos Negócios, à admiração que eu já sentia pelo Amazonas.

Ia eu, porém, tratando das suas ilhas. São elas no meu entender uma das maravilhas do Pará. Multiplica o curso dos rios pela extensão das suas margens, toma o circuito (!) destes milhares de ilhas; considera quantos rios há ainda de curso menos conhecido, os quais todos, com raras exceções, correm por um declive suave, os furos que encurtam as distâncias, os igarapés que em diferentes alturas comunicam os grandes rios entre si; considera a preciosidade das suas drogas, a fertilidade incrível do solo, favorecida pelo calor e pela umidade; e verás que nenhum país é tão próprio para a agricultura, nenhum tão favorável ao comércio — nenhum que tenha tanta quantidade de terras em contato com água navegável. E logo o baixo Peru, que morre asfixiado se lhe tapamos o Amazonas; a Bolívia, que tudo espera do Madeira, e que pode ser muito por meio dele; e Venezuela e Nova Granada,[4] que nos estendem os braços do Yapurá e do rio Negro, ao passo que se temem naquele perigoso mar das Antilhas; e as nossas províncias de Goiás e Mato Grosso?… Amigo, seremos alguma coisa algum dia, se os nossos vindouros valerem mais que os Fer… e Mar… de hoje — duo magna luminaria.[5] Não lhes acho outro ponto de contato, senão serem ambos luminárias (suas excelências me perdoem) — conselheiro ou comendador, ministro ou presidente —, o que for um, o que tiver sido outro — duo magna luminaria. É a Bíblia quem mo diz e fico nisso: — (Et Deus fecit)[6] porque, se Deus os fez, ficaram feitos por todo o sempre.

Pasmado quando entra no grande leito do Amazonas, perdido nesta imensidade, o viajante pensa consigo: “Lá mais em cima, estas águas se hão de tornar menos volumosas, hão de estreitar-se estas margens, este colosso há de enfim cair debaixo da ação e compreensão dos sentidos humanos!”.

Nesta esperança, passa o Xingu, o Tapajós, o Trombetas, o Madeira (gigantes também), e o rio é sempre o mesmo!

Deixa atrás o imenso cabedal do rio Negro, com as suas águas que espantam pela cor, o Japurá, semelhante ao Nilo com as suas sete bocas, o Purus, o Ucayali, o Uallaga, e entre estes, o Coari, o Tefé, o Javari, o Napo, centenas de outros; e o eterno rio, na distância de oitocentas, de novecentas léguas, ainda parece o mesmo!

Sem dúvida que as águas diminuíram: mas é que há menos ilhas, menos paranás, eis tudo. O que se vê é, com diferença pouco sensível, a mesma coisa. A sua força é ainda a mesma, as suas transformações têm ainda a mesma intensidade; porque o Amazonas, o Solimões e o Marañon, esta trindade fluvial num só corpo, é um grande destruidor; mas também um criador por excelência. Ilhas e praias faz ele ou desmancha com assombrosa facilidade.

Alguma vez, a canoa dirigida por um hábil prático aporta a uma ilha que ali existe, diz ele — desde que a gente é gente, ou, por outros termos, desde que se viu admitido às honras, prós e percalços de tão penosa profissão.

É lisa a superfície das águas; o céu sereno se retrata nelas como num espelho; as folhas não remexem; os animais bravios pastam descuidados; as aves contemplam pasmadas os novos hóspedes que lhes chegam — tão patetas uns como outros. Nada revela perigo, nem à inteligência do homem, nem ao instinto do irracional.

Nesta paz, neste ao que parece remansear das forças da natureza, ouve-se de repente um rugido, como se os céus desabassem — árvores colossais oscilam, vergam, tombam como castelos de cartas! —, a terra falta, desaparece — a canoa não desamarra, nem tem tempo, arrebenta-se-lhe o cabo, as águas repelidas pela queda das barreiras e das árvores repelem-na também para o largo —, e antes que os viajantes possam tornar a si do assombro — antes que saibam e conheçam o que foi —, antes que o mestre possa comandar alguma manobra, voltam elas pujantes, furiosas, redemoinhando e num vórtice — canoa, árvores, ilha —, tudo desaparece e se esvai como por encanto. Boiam somente algumas dessas árvores monstros, que tornam perigosa a navegação do Solimões e do Amazonas, e cujas raízes sobrenadam sobranceiras como ilhas flutuantes sobre a superfície das águas; fogem grasnando algumas aves, lastimando a perda de seus ninhos — e o rio cobre majestosamente aquele espaço, aqueles destroços, aquele ubi Troja,[7] mostrando apenas naquele lugar uma larga mancha cor de terra: porque a ilha se submergiu num abismo tão completo e quase tão instantaneamente como um homem se afoga!

Mas estes destroços — terra e troncos — mais abaixo se aglomeram, se acumulam, acrescentando noutra parte o continente ou formando alicerce para novas ilhas. Depois a aninga surgirá dentre as águas com as suas folhas em forma de coração e o fruto à semelhança de um ananás inculto — e mais acima, em terra já mais descoberta, vingará a canarana, pasto do herbívoro peixe-boi, perseguido na terra pelas onças, nos rios pelos jacarés e pelo homem em toda parte.

Infindas palmeiras, cujas raízes procuram e se nutrem de umidade, levantam os leques e as palmas, matizadas com as cores vivas das araras e dos papagaios, que folgam de pousar nelas.

Logo mais, a embaúba virá ao sopro da brisa curvar as folhas esbranquiçadas, figurando um bando de garças pousadas à margem da corrente; e como coroa de tudo, a sumaumeira eleva e alarga a copa imensa e majestosa, cuja sombra ao meio-dia cobre, segundo se crê, a circunferência das raízes.

Enfim, à sombra desta vegetação vigorosa e rica, vem a baunilha incrustar-se nos troncos de superfície rugosa, embalsamando os ares; o cacaueiro, pouco amigo do sol, virá ocultar-se sob estas ramagens frondosas, enquanto, para se tornarem deliciosos, mil frutos silvestres, e entre eles novas espécies dos já domesticados — a sorva, o uxi, o araçarana — só esperam a mão do homem para o recompensarem de seus desvelos.

Acrescente-se a isto milhares de parasitas, infinitas trepadeiras, que se emaranham pelos troncos, debruçam-se dos ares, estrelam a paisagem e matizam o panorama, acariciando a vista e o olfato ao mesmo tempo; mas com cores tão finas que se não desmancharam ainda na palheta do pintor; mas com olores tão suaves que os não descobriram ainda os nossos perfumistas de agora. Aqui, quer ao clarão da lua, quer no remansear de uma noite serena dos trópicos, respira-se às largas, em ondas, a plenos pulmões, como se toda a atmosfera não bastasse para satisfazer a sede do olfato, que se desperta sôfrega, que é poesia ainda, que se converte em amor! — amor por todos quantos respiram sob este céu abençoado, e cujos peitos, se alguns tendes perto, arfam acordes convosco num sentimento invisível de amor da pátria e de benevolência recíproca.

Vós que, semelhantes a mim e a muitos outros, talvez sem razão, vos entristeceis ou irritais com o jeito que as nossas coisas vão tomando, acaso porque se vos tornou menos risonho o céu da vossa imaginação; — vós que, num acesso de hipocondria chegastes a desamar a terra de que sois filhos e a descrer dos homens de quem sois irmãos —, vinde-me aqui passar um quarto de hora em noite de luar sereno, ou nessas noites de escuro, ainda mais belas e mais serenas do que as outras, em que milhões de estrelas se refletem nas águas, e no escuro transparente do céu e do rio desenham o duplicado perfil dessas florestas imóveis e gigantescas: respirai-me estes aromas, que se elevam suavemente combinados, como de um vaso de flores colhidas de fresco, e haveis de achar-vos outro, e, como nos tempos felizes da juventude, capaz ainda das ilusões floridas, da confiança ilimitada, da fé robusta nos sucessos, nos homens, no futuro, e, sequer por alguns momentos podereis sentir, haveis de sentir orgulho de vos chamardes brasileiro também.

Eis que obras perfaz o gigante em alguns anos! É a ilha de Calipso sem a deusa, e sem as ninfas que a serviam[8] — um ninho de fadas, que se desencantaram, um paraíso, mas visto de longe. Perto!… Toda luz projeta sombra, diz um colega, toda  medalha tem reverso? Sentem-se logo os meruins, os micuins, os piuns, os mosquitos, as mutucas e os carapanãs, as aranhas, os lacraus, as cobras, todo o arsenal do diabo em número infinito de instrumentos — uns na terra, outros nos ares —; uns que mordem pela manhã, outros à tarde, outros de noite, já estes que ferram cantando, já outros que mordem à surdina — com rostro ou mandíbulas, com a boca ou com o abdômen —; estes aqui, aqueles mais longe — em uma palavra, há de tudo, para todos os tempos, para todos os lugares, para todos os gostos!

Nesta Babel de pragas, a poesia, como passarinho ao cair da tarde, esconde-se, que ninguém sabe mais notícias dela. Engano-me: a poesia do naturalista, do botânico ou do zoólogo, principalmente se é alemão, resiste a tudo. Martius no Yapurá ou Grão Caquetá, como melhor se chame, fez um poema à solidão das florestas. Está manuscrito o poema, e talvez morra nos limbos, mas eu que te falo, isto é, que te escrevo — egomet hisce occulis vidi![9]

Falei acaso ligeiramente da musa alemã? Praguento será quem o suspeite. Não mais, e acaso melhor que ninguém, me deixei apaixonar por ela.

A musa alemã?!

Lá vai uma profissão de fé do que julgo e creio a seu respeito, posto que não faça muito ao caso.

É uma dessas donzelas, um pouco inteiriças, mas cheias de poesia e dignas de acatamento, atravessando as vastas salas de um antigo castelo feudal, entre retratos que amedrontam, e amplos rases,[10] que, movidos ao sopro de vento frígido numa noite de inverno, dão vida e movimento a um mundo fantástico, ideal e para sempre desvanecido!

É uma dessas figuras de anjos, que vemos e admiramos iluminadas nos antigos missais e velhos livros de orações, com fisionomia de expressão celeste; mas os pés e as formas envolvidas numa densa nuvem de brocados, de veludos, de damascos, figuras que não pousam, antes que parece que aspiram, e que de fato remontam aos céus.

Impressione-se embora das nebulosidades de Kant, de Fichte e de Schelling! — de vez em quando lhe ouvireis um ai, um grito, como se conjuntamente se rompessem uma corda à lira e uma artéria ao coração: é o mundo real, a alma, a humanidade —, é a natureza que fala, a natureza pura, grande e tão nobre, que quase parece ideal —, a natureza manifestando-se num desses belos idiomas, que por si honram os que o falam, dão testemunho de suas largas concepções e prognosticam as suas conquistas nos domínios infinitos da inteligência e da imaginação.

Mas…

Eu, que cometo insano e temerário?[11]

Musa, onde me sobes?! Desce, vadia, senta-te com propósito, e conta-nos…

Ai!… Já me esquecia que se tratava de pragas, micuins e miudezas quejandas!

Dizia eu, pois, que, se fossem somente elas, a musa, mesmo a do naturalista, teria desculpa, cantando os enlevos desta terra, que zelamos tanto e tão pouco aproveitamos. Infelizmente, porém, os males, como as sardinhas, andam em cardumes, e mais infelizmente ainda, os cardumes de pragas fazem súcia com boa meia dúzia de enfermidades, das melhores que temos registradas nos Memoriais patológicos.

Mas não o querem crer, bem que mais alguém o tenha dito.

Entre esses, um homem, tão distinto pelas suas luzes como pelos seus sentimentos, representou este Pará e Amazonas como um inferno em miniatura, as terras desertas, inabitadas, e quase inabitáveis — a zona tórrida dos antigos com um dilúvio de todos os anos —, enfim, só real e verdadeiro país de Cocagne[12] para os flibusteiros do Norte,[13] para os médicos que não têm o que fazer na corte e para os boticários, sem papelucho de vendedores de drogas. Homem, que tal disseste! Caíram-lhe logo em cima desafetos em barda!

Por experiência própria, bem deves saber que, onde aparece incontestável merecimento, nasce logo esta mostarda, como cogumelos em tempo de chuva. Criaturas a quem nunca vistes, que não conheceis, a quem nunca fizestes mal, de quem nunca se vos dará o valor de um cominho — muitos, a maior parte desses, e o que é mais —, os que alguma coisa vos devem, os que vos devem muito, estes principalmente, logo que tendes verdadeiro merecimento são vossos desafetos: é o burguês de Atenas, votando no ostracismo de Aristides; mas os nossos burgueses de hoje, graças às luzes do século, não se satisfazem com escrever na concha a letra nefasta! Atiram com ela, em vez de pedra, à cabeça do pobre Aristides para que tome juízo e se contenha nos limites estreitos, na senda trilhada do vulgar vulgacho. Digo-o sem aplicações, e passo adiante.

Ora, como ia dizendo, a chusma dos desafetos caiu-lhe em cima como uma nuvem de gafanhotos. “Vejam, que administrador, diziam! Que juízo de homem! Dizer aquilo do grão-ducado, que é o único grão-ducado que há em todo o Brasil, que é o único Brasil que há em todo o mundo!”

Perdão, meus amigos!

Lá quanto a administrador não digo nada. Desde que a lei criou, ou vai criar, uma classe deles, é da maior evidência que todo o civis romanus[14] se deve sujeitar à lei, e não há de manifestar talentos que a mesma lhe não reconhece. Se não está feita ainda a estatística destes nossos grandes homens, paciência! — esperemos sem aventurar juízos temerários!

Negar-se, porém, inteligência e critério a uma inteligência daquelas, só porque disse, pouco mais ou menos, que isto é um charco e como tal doentio, ides mais longe do que ele. Houve exageração no seu dizer, exageração intencional, manifesta, prova­da; mas falsidade, não.

E se não, vede.

Desembarca um homem no Pará, no começo das chuvas, ou no princípio do ano, com a intenção de seguir para o interior. Se tem alguma alma caritativa que por ele se interesse, pergunta-lhe logo até onde pretende chegar na sua excursão.

Eu, responde-lhe o outro, desejo visitar certos rios e lagos, andar por furos e igarapés, cantos e recantos, até onde os fados mo permitirem.

Mas nesta estação?, replicará a caritativa.

Sem dúvida. De caminho…

Sim, abandonado! Povoações outrora florescentes, prósperas, cheias de vida — todas as do rio Negro, por exemplo —, tudo isto está hoje despovoado. Cultivavam outrora o anil, o café, o arroz, a farinha; tinham olarias, faziam cordoalhas, extraíam drogas em abundância; e hoje… Vivem de esmolas! O Pará, que não é propriamente uma província agrícola, que o não será tão cedo, o Pará fornece farinha a Tabatinga! E em todo o Amazonas, em todo o Solimões, o arroz, como o trigo em certas partes da Rússia, dá duas colheitas por ano, e a mandioca e a macaxeira amadurecem em seis meses!

Índios, que é deles! Pois contavam-se então às centenas, por milhares!

E, pois, cheguei aos índios, faço aqui ponto para tomar fôlego, e continuar mais descansado.

Teu do coração

Gonçalves Dias

Gonçalves Dias. Poesia completa e prosa escolhida. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1959, pp. 831-836.

[1] N.E.: Saiu esta carta, única que escreveu o poeta sobre o assunto, pois teve de retirar-se apressadamente para a corte, onde lhe sobreveio a terrível moléstia que o perseguiu até o fim da vida, em dezembro de 1861 no Progresso, jornal que eu então redigia. – A.H.L.
[2] N.S.: “sem fazer alarde”.
[3] N.S.: Mar agitado por pequenas ondas.
[4] N.S.: Nova Granada era um vice-reino espanhol na América do Sul, que correspondia aos atuais países do Panamá, Equador, Venezuela e Colômbia, e cuja capital era Bogotá.
[5] N.S.: “dois grandes astros”.
[6] N.S.: “E Deus fez”.
[7] N.S.: “Onde Troia”, em alusão à Eneida, de Virgílio. A expressão sintetiza a imagem de lugar desolado, em ruínas.
[8] N.S.: Na mitologia grega, Calipso é uma ninfa do mar que habita a ilha de Ogígia, um dos locais visitados por Odisseu na epopeia homérica.
[9] N.S.: “eu me vi nestes olhos!”.
[10] N.E.: Rases, plural de rás, o mesmo que arrás, s.m. Tapeçarias antigas e valiosas fabricadas em Arras, na França.
[11] N.S.: Verso do canto VII de Os Lusíadas: “Eu, que cometo insano e temerário,/ Sem vós, ninfas do Tejo do Mondego,/ Por caminho tão árduo, longo e vário!”.
[12] N.S.: Na cultura europeia, terra mitológica, espécie de paraíso terrestre.
[13] N.S.: Flibusteiros eram os piratas do mar das Antilhas durante os séculos XVII e XVIII. Em sentido figurado, significa aquele que é desonesto, aventureiro, trapaceiro.
[14] N.S.: “Cidadão romano”. O ciuis romanus honrava a República romana por meio de seus deveres cívicos, políticos e militares, acima de interesses pessoais e subjetivismos.