Rio [de janeiro], 8 de dezembro de 1985

Querida Rachel:

Não quero terminar o ano sem limpar-me de um pecado de omissão cometido contra O galo de ouro. O volume ficou perdido numa pilha de outros que se acumulava a um canto do escritório – esse escritório mal organizado de um sujeito que se afirma ser organizadíssimo – e só há pouco o recuperei. O resto, você adivinha: li o romance como da primeira vez, nas páginas do Cruzeiro, encantado e pedindo mais. Que retrato vivo do Rio de época recente, entretanto longínqua pela fúria do chamado progresso!

Você salvou a Ilha [do Governador], na memória literária, do opróbrio dos novos tempos. E fez um livro para sempre.

Obrigado, num carinhoso abraço do seu velho e fiel amigo

Carlos


Arquivo Rachel de Queiroz/IMS