Poderia ser mais uma canção de amor. Dessas que imediatamente nos transportam para o cenário de um clássico hollywoodiano da década de 1940 ou 1950 – para o qual, inclusive, Love Letters foi composta. Mas uma canção na voz “de veludo” de Nat King Cole, como a definiu o jornalista Nelson Motta, nunca é mais uma: a elegância e delicadeza do músico norte-americano transparecem em memoráveis interpretações, capazes de traduzir grandes histórias de amor.
Composta inicialmente sem letra por Victor Young em 1945 para o filme homônimo (no Brasil, chama-se Um amor em cada vida) de William Dieterle, a letra de Edward Heyman, cujo nome consta no Hall da Fama por composições imortais como Body and Soul, trata de uma temática cara à epistolografia amorosa – a comunicação com a pessoa amada e ausente: “Eu memorizo cada linha/ Eu beijo o nome que você assina/ E, querido, então eu li de novo desde o início/ Cartas de amor direto do seu coração”, diz o refrão. Essas cartas – vindas “direto do coração” e, portanto, repletas de sentimento – não só reafirmam a paixão, como tornam menos amargo o sofrimento causado pela distância. Afinal, são elas que “mantêm-nos tão próximos enquanto estamos distantes/ Eu não estou sozinho na noite/ Quando posso ter todo o amor que você escreve”.
Com voz suave, mas potente, a sensualidade de “Nat” e o vigor que confere a cada palavra – como se as saboreasse enquanto canta – sem dúvida contribuíram para o sucesso de Love Letters, indicada ao Oscar de Melhor Canção pela adaptação cinematográfica de Pity My Simplicity, romance de Chris Massie sobre um triângulo amoroso. Do front italiano, o soldado Alan Quinton (Joseph Cotten) concorda em escrever cartas de amor para a jovem Victoria Remington (Jennifer Jones) em nome do colega Roger Morland (Robert Sully). Ao retornar da guerra, Alan descobre que Roger, casado com Victoria, fora assassinado e a mulher era uma das suspeitas do crime. Enquanto a moça tenta recuperar a memória perdida, Alan, apaixonado por ela, investiga o que aconteceu.
A canção, ao lado de Unforgettable, Stardust e Nature Boy, dentre outras, foi uma das músicas eternizadas pelo pianista de jazz que brilhou na década de 1940, antes mesmo da estreia como cantor em 1943 com Straighten Up And Fly Right. Gravada, a música vendeu mais de 500 mil cópias e abriu caminho para o grande intérprete que ele se tornaria, rivalizando, em popularidade, com Frank Sinatra.
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Leia abaixo a tradução:
Cartas de Amor
O céu pode estar sem estrelas
A noite pode ser sem lua
Mas no fundo do meu coração há um brilho
Porque no fundo do meu coração
Eu sei que você me ama
Você me ama porque você me disse isso
Cartas de amor direto do seu coração
Mantêm-nos tão próximos enquanto estamos distantes
Eu não estou sozinho na noite
Quando posso ter todo o amor que você escreve
Eu memorizo cada linha
Eu beijo o nome que você assina
E, querido, então eu li de novo desde o início
Cartas de amor direto do seu coração
Cartas de amor direto do seu coração