No início de 1929, o então estudante de direito Ary Barroso participou de um concurso de sambas promovido por O Jornal, do Rio de Janeiro, com Vou à Penha, composição sua que já havia sido gravada em dezembro do ano anterior por Mário Reis (e que acabaria vencendo o referido concurso). Em entrevista ao mesmo jornal, ao citar seus compositores preferidos, destacou: “Em primeiro, o admirável Pixinguinha, o homem das melodias arrebatadoras”.
Vinicius de Moraes disse certa vez que, se não fosse ele mesmo, gostaria de ser Pixinguinha ou o cantor e compositor Cyro Monteiro, porque o primeiro era “a pureza total, em estado de graça”, e o segundo “a pureza por opção, pois malícia não lhe falta”.
Noite de 23 de julho de 1967. Pixinguinha é liberado por seu médico para receber a Ordem da Bossa, conferida pelo Clube do Jazz e da Bossa, no Teatro Casa Grande. Vinicius faria o discurso saudando o homenageado, seu parceiro musical. Sérgio Cabral anuncia a presença de Tom Jobim, recém-chegado da gravação de seu disco com Frank Sinatra. Tom senta-se ao piano, alguém arranja um saxofone para Pixinguinha – que estava proibido de tocar – e o encontro histórico entre esses dois gigantes da música brasileira é gravado pelo compositor e jornalista Sérgio Bittencourt, filho de Jacob do Bandolim, para seu programa na Rádio Nacional. Segundo as testemunhas, ambos tocam um Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro) de tirar o fôlego dos presentes.
Nos bilhetes que se seguem, pertencentes ao Acervo Pixinguinha do IMS, a reverência de três nomes ilustres da música popular: Ary Barroso pede ao compositor de Carinhoso um autêntico samba tipo partido alto (será que Pixinguinha conseguiu socorrê-lo?); e Cyro Monteiro e Tom Jobim fazem, em poucas e certeiras palavras, genuínas declarações de amor ao grande mestre de todos.
Pixinguinha,
Um abraço.
Preciso que você me arranje um samba do partido alto autêntico.
Ary Barroso
Graças a Deus, temos ainda Pixinguinha em [19]65
Cyro Monteiro
Rio [de Janeiro], 11 de agosto de 1971
Ao meu Pixinguinha,
Amor da minha vida
Gênio querido e humano
Com um abraço do
Tom