Com um olhar sobre a violência neocolonial no continente africano, André Rebouças parte do Brasil para se estabelecer como engenheiro em Angola, atuando na construção de estradas de ferro e na introdução da lavoura de café. Permanece pouco mais de um ano na África do Sul, de onde escreve para seu amigo, Alfredo Taunay. Leitor e amante dos clássicos gregos, que vão de Homero, Ésquilo a Sócrates, Rebouças comenta sobre astronomia e sua ação enquanto professor de cálculo na terra de seus ancestrais.

4 de abril de 1893

Meu querido Taunay,

Parece-me que minhas cartas, durantes a crise de mudança do Transvaal para Cape Town, foram por demais negras e africanas: porque, a 16 de fevereiro, escreveu: “Libertando-se da opressão do continente negro e mártir, do qual não tens colhido senão combates estéreis e angustiosas decepções”.

Para a festa de cem anos de Paulo Mendes Campos, recolhemos, do acervo, uma pequena amostragem de felicitações de alguns de seus amigos. Às cartas carinhosas de Otto Lara Resende, enviadas nas décadas de 1960 e 1980, se juntam os telegramas objetivos, mas não menos afetuosos, do editor José Olympio e do psicanalista, também seu amigo de longa data, Hélio Pellegrino.

28 de fevereiro de 1963

Meu abraço no seu aniversário

José Olympio

Lisboa, 28 de fevereiro de 1969

Paulusca,
Seu aniversário foi marcado aqui em Lisboa com um pavoroso terremoto, que, por ora, ainda não destruiu a cidade. No próximo ano, deixe por menos… Passamos uns momentos de pânico, numa experiência que não deixa […]

A década de 1980 marca o nascimento da banda Legião Urbana que, nesta carta de Renato Russo, ainda não conhecia a fama. Ao fotógrafo Maurício Valladares, o músico – tomado de boas expectativas – dá notícias do contrato a ser assinado com a EMI, empresa fonográfica que lançaria definitivamente a banda em 1985.

[Dezembro, 1983]

Maurício,

Mal tive tempo de falar com você, mas é tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo – tantas decisões. Este final de ano foi fogo. Mas, adivinha só, graças aos fabulosos Paralamas [do Sucesso] o pessoal da EMI vai mesmo sign us up God only knows o que vai acontecer depois disso. Joy Division […]

Se a amizade entre Celso Furtado e Antônio Callado começou na década de 1940, no Rio de Janeiro, em uma redação de jornal, ela logo se expandiria. A dupla compartilharia projetos literários e posicionamentos políticos afinados contra a ditadura militar. Nesta carta, Callado comenta sobre o processo de escrita do seu romance Quarup e promete um ensaio para a revista francesa Les Temps Modernes, cuja edição especial sobre o Brasil seria organizada por Furtado, seguindo sugestão de Jean-Paul Sartre.

Guanabara, 9 de fevereiro de 1967

Meu caro Celso, sua carta de 14 de janeiro só me chegou às mãos a 3 de fevereiro, véspera do Carnaval, quando eu estava de malas prontas para fugir para Teresópolis. Mas me valeu uma excelente visita do Lucio Costa. O Lucio chegou aqui em casa entre nove e […]

Em 1950, a escritora cearense Rachel de Queiroz publicou nas páginas de O Cruzeiro quarenta capítulos de O galo de ouro, romance que seria editado em livro apenas em 1985. Único romance da escritora ambientado fora do Ceará, O galo de ouro teve sucesso entre o público leitor da época, revelando o cotidiano da Ilha do Governador, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Nesta carta, o poeta Carlos Drummond de Andrade reage à trama, saudando o estilo realista adotado pela autora.

Rio [de janeiro], 8 de dezembro de 1985

Querida Rachel:

Não quero terminar o ano sem limpar-me de um pecado de omissão cometido contra O galo de ouro. O volume ficou perdido numa pilha de outros que se acumulava a um canto do escritório – esse escritório mal organizado de um sujeito que se afirma ser organizadíssimo – e só há pouco o […]