No dia seguinte à morte de Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura, assassinado nos porões do DOI-CODI, os estudantes rapidamente se organizaram para enviar esta carta aos jornalistas brasileiros. O movimento era uma necessária reação às violências e arbitrariedades da ditadura militar que, em 1975, atingia um nível agudo com sequestros, prisões e desaparecimentos. A convocatória parece ter surtido efeito: o Sindicato dos Jornalistas, junto com diversos movimentos estudantis, organizaram um ato ecumênico que reuniu 8.000 pessoas na Catedral da Sé em memória de Herzog.

[26 de outubro de 1976]

Aos jornalistas

Nos últimos dias foram presos em São Paulo e no resto do país dezenas de pessoas. As prisões atingiram indiscriminadamente estudantes, profissionais liberais, professores, sindicalistas, operários e membros do partido reconhecido pelo Governo, o MDB. Entre eles, 10 jornalistas.

Essas prisões tiveram todas as mesmas características: o sequestro, a incomunicabilidade. As pessoas foram […]

Em 1946, o escritor mineiro João Guimarães Rosa lançava Sagarana, livro de contos que introduziu a temática regionalista universalista, pela qual se notabilizaria. A chegada ao hibridismo entre saga, radical germânico que significa lenda, e rana, palavra de origem tupi que expressa semelhança, levou tempo. A primeira versão da obra data de 1938, quando o escritor, sob o pseudônimo de Viator, inscreveu o livro então intitulado Contos no concurso Humberto de Campos, promovido pela livraria José Olympio. Desbancado por Maria Perigosa, de Luís Jardim, o livro terminou na segunda colocação. Contudo, as doze histórias ambientadas no sertão de Minas Gerais deram corpo a um clássico da literatura brasileira. Em carta ao jornalista João Condé, autor da coluna Arquivos implacáveis, Rosa explicou detalhadamente o processo criativo de Sagarana.

[Sem data]

Prezado João Condé,

Exigiu você que eu escrevesse, manu propria, nos espaços brancos deste seu exemplar de Sagarana, uma explicação, uma confissão, uma conversa, a mais extensa, possível — o imposto João Condé para escritores, enfim. Ora, nem o assunto é simples, nem sei eu bem o que contar. Mirrado pé de couve, seja, o […]

Aos 62 anos, o já consagrado Drummond relembra episódios da infância vividos com o pai Carlos de Paula Andrade, presente em alguns de seus poemas e crônicas drummondianas. Nesta carta/crônica, publicada no jornal carioca Correio da Manhã, onde o poeta e cronista colaborou três vezes por semana durante 15 anos, ele recorda afetuosamente uma preciosa lição do pai que não pôde ser cumprida: “o essencial em duas palavras”.

 [Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1964]

Às vezes o senhor me chamava para seu secretário, e isso me enchia de orgulho. Eu pequeno, o senhor tão grande — maior que um homem comum aos olhos de qualquer menino. Tudo no lugar era pequeno e doméstico, e o senhor, sim, era grande — começa […]

Grande foi a tarefa de Jacob do Bandolim ao gravar a histórica suíte Retratos, com regência de Radamés Gnattali, autor da composição a ele, Jacob, dedicada e comentada por Bia Paes Leme na Rádio Batuta, do IMS. Toda a gratidão e devoção do bandolinista homenageado ressaltam nesta carta ao maestro.

S.l., 23 de outubro de 1964

Meu caro Radamés,

Antes de Retratos,[1] eu vivia reclamando: “É pre­ciso ensaiar…”. E a coisa ficava por aí: ensaios e mais ensaios.

Hoje minha cantilena é outra: “Mais do que ensaiar, é necessário estudar!”. E estou estudando. Meus rapazes também (o pandeirista já não fala em paradas: “Seu Jacob! O senhor aí quer […]

Na noite da votação das Diretas Já, movimento civil que exigia eleições presidenciais diretas no Brasil, a atriz Fernanda Montenegro escrevia ao amigo e dramaturgo Augusto Boal, com quem manteve constante correspondência durante o período em que ele esteve no exílio. Antes de enviá-la, Fernanda já podia dar a má notícia do resultado, como se pode ouvir na leitura em vídeo ao final da carta.[1]

Rio [de Janeiro], 25 de abril de 1984

Querido Boal,

Acabo de receber sua carta, dizendo que você chega breve.

Hoje, no Brasil, vivemos uma noite especial, pois estão sendo votadas as Diretas no Congresso, e tudo pode acontecer. Multidões estão de plantão em todo o país. A votação vai pela noite.

Boal, tudo mudou nos planos do Theatro Municipal. Tatiana saiu. O […]